Carta ao Amor que Retorna
Carta ao Amor que Retorna
Chove.
Desta vez não chega como tormenta e sim como bálsamo, aliviando a dor da saudade dos teus braços.
Fecho a janela do pensamento e leio um romance para não pensar em ti e no teu corpo que aqueceu o meu tão frio.
E então num de repente, voltamos à tona referindo nos um ao outro pelo pronome nós, como que estivéssemos o tempo todo, interligados por um hiato elástico.
Chove.
Penso nos momentos que estão latentes, neste "nós" clandestino que há tempos eu tinha arquivado na memória.
Falar do amor que retorna é retomar amizade com a inclinação poética. Acreditei que enquanto velada, estaria segura dos pensamentos e segredei apenas ao vento as rimas que com as mãos dedilhamos. Se o amor retorna, permita-me que escreva as reminiscências. Precisam saber que você existe, muito embora sem nome, incrustado nos meus versos que gritam pelas arestas.
Ontem mesmo, exausta da fuga, sedenta no deserto, estaquei e esperei por ti. Matei a sede no suor de teu corpo,
mesmo sabendo que a água salgada também mata.
Chove.
A mansidão com que chega me acalenta a alma e me tira da leitura. Quanto tempo viajou esta água para vir brincar no telhado?
Deslizo o livro, olho para além do horizonte da janela e torço para que você pense em nós também.
C...h...o...v... e...
Deslizo o livro e leio a chuva.