Carinhos e sorte
Ah, meu bem. Como estou cansada...
Tu te lembras das cartas? Lembra-se dos beijos?
O sol era o limite de calor, que minimamente poluía seus olhos negros. Os meus olhos mal podiam esperar o encarar dos teus, porque era muito pequena a abertura dessas tuas pálpebras silenciosas.
Eu escrevo-te pra mostrar que consegui te esquecer, que não chorei tanto e que até reencontrei a paz longe de ti.
O que eu poderia lhe desejar, meu bem?
Eu vivi contigo tantas histórias minúsculas e soberbas. Te lembra? O nosso amor era ridiculamente único em cama. Saberias dizer o que nos falta? O que nos faltou? Sem dúvidas, posso ouvir de relance e intuição tua resposta. Mas vou te suplicar que cales a boca, pois não faltou-nos carinhos e nem verossimilhança. Nós éramos o vôo dos paralíticos, e a imagem torturante de Deus.
Éramos milagre.
Enfim, vida. Não chamarei-te mais de amor, ou inventarei poemas pequenos em carinhos gigantes de mãos e lábios.
Acostuma-te, adeus.
De: Cecília S. Nunes
Para: Joaquim M. Cardoso.
27 de Novembro de 2016.