Bem que minha avó podia ter me cedido a suavidade de seus olhos azuis, ou o pai um tantinho dos seus verdes. Certamente não teria tanta predisposição para o rubro e o amarelo. Mas esses alemães ah... são teimosos até na hora de dividir os genes !
Respondendo à tua pergunta, quanto ao amarelo de Van Gogh - Rubem Alves nasceria mais tarde para pintar os ipês nas telas das letras. Acho que foram seus ipês que também coloriram o vento, nada com que se espantar, já que ele também não nasceu com olhos azuis.
Há uma semelhança quase simbólica nas palavras de Rubem e nas tuas - Apesar de, às vezes, me constranger a fluidez aparentemente simples dos seus textos, sempre que os leio nasce uma contração involuntária nas minhas covinhas. E não é sinal de pouca fé não, até mesmo porque a felicidade não me visita sempre, mesmo que eu coloque a mesa para o café, com bolo, cuca, calça-virada, pão caseiro, queijo, nata e salame italiano.
Gosto de servir, gosto mais ainda de cozinhar. Gosto da diversidade dos temperos, dos sugos, das pastas ao pesto, alho e óleos regados a vinho. As mesas fartas cobertas de vozes, taças erguidas e gestos largos, me encantam.
Mas acho que gosto mais ainda dos doces. Há algo de mágico nos doces.
Eles libertam uma alegria quase juvenil - Nunca vi alguém triste diante de uma torta de chocolate.
Minha mente parece flutuar sempre que me encontro com as mãos à farinha, os ovos, o leite, à manteiga, o chocolate e à nata. Sinto-me como a pintar uma tela, quando às voltas da confeitaria. Visto-me de um silêncio quase sacro, uma concentração quase filosófica. E nesse momento, não raras às vezes, posso jurar que ouço Cora, dizendo - "Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça".
Cozinhar é um ato de amor. Então quando estou amando, seja à cozinha ou à escrita, sinto que me acompanham uma confeiteira e uma escritora, cujos olhos carregam os azuis, iguais os de minha avó .
Respondendo à tua pergunta, quanto ao amarelo de Van Gogh - Rubem Alves nasceria mais tarde para pintar os ipês nas telas das letras. Acho que foram seus ipês que também coloriram o vento, nada com que se espantar, já que ele também não nasceu com olhos azuis.
Há uma semelhança quase simbólica nas palavras de Rubem e nas tuas - Apesar de, às vezes, me constranger a fluidez aparentemente simples dos seus textos, sempre que os leio nasce uma contração involuntária nas minhas covinhas. E não é sinal de pouca fé não, até mesmo porque a felicidade não me visita sempre, mesmo que eu coloque a mesa para o café, com bolo, cuca, calça-virada, pão caseiro, queijo, nata e salame italiano.
Gosto de servir, gosto mais ainda de cozinhar. Gosto da diversidade dos temperos, dos sugos, das pastas ao pesto, alho e óleos regados a vinho. As mesas fartas cobertas de vozes, taças erguidas e gestos largos, me encantam.
Mas acho que gosto mais ainda dos doces. Há algo de mágico nos doces.
Eles libertam uma alegria quase juvenil - Nunca vi alguém triste diante de uma torta de chocolate.
Minha mente parece flutuar sempre que me encontro com as mãos à farinha, os ovos, o leite, à manteiga, o chocolate e à nata. Sinto-me como a pintar uma tela, quando às voltas da confeitaria. Visto-me de um silêncio quase sacro, uma concentração quase filosófica. E nesse momento, não raras às vezes, posso jurar que ouço Cora, dizendo - "Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça".
Cozinhar é um ato de amor. Então quando estou amando, seja à cozinha ou à escrita, sinto que me acompanham uma confeiteira e uma escritora, cujos olhos carregam os azuis, iguais os de minha avó .
