Sobre mudança

Existe em nós uma capacidade gigantesca de ir, fisicamente ou psicologicamente, ao final do famoso túnel. Chego a entender que muito dos nossos sofrimentos são atrelados ou totalmente intensificados por um fator que levamos sempre na brincadeira: o drama. Poderia dizer, extrapolando os limites das conjecturas, que temos o nosso lado Nietzschiano quando amamos o desejo e não o ser desejado. Evidentemente que todos nós passamos por situações difíceis, isso é claro, é óbvio, mas temos sempre a ideia de que ninguém no mundo está passando por aquilo que estamos, que a doença só nos acomete, a injustiça só acontece no nosso meio, que a falta de amor só existe do nosso lado. É egoísmo nosso, é uma vontade inenarrável de querer estar sempre querendo ser o centro das atenções, de querer ser o acolhido, o coitado, a vítima, aquele que precisa do carinho e do afago de todos. Ora, tudo isso descrito anteriormente é verdade, e realmente precisamos, mas é preciso também reconhecer que nossa carência estará presente em todos os momentos de nossas vidas.

A questão é: todo o mundo sofre, todas as pessoas tem um determinado tipo de problema, por exemplo, agora, neste momento, alguém não muito distante de você está preso em situações e circunstâncias que você nem pode imaginar. Seu problema é grande? Sim, para você. O problema de acharmos que nossas adversidades são maiores é que caímos naquele erro de inferiorizar sempre o problema, as adversidades que ocorrem com os outros, novamente o egoísmo. Nós temos essa capacidade de querer centralizar tudo em nós. Seja amor ou dor, alegria ou felicidade. É preciso reconhecer que o mundo tem problemas, e que cada um precisa aprender a lidar com eles. As religiões, os deuses, as crenças, as literaturas, são formas de cada um tentar arrumar sua válvula de escapa, sua cura, seu renovo.

Independentemente da crença, do fundamentalismo e do pragmatismo que cada um vive, diretamente ou indiretamente, eu acredito num princípio que está lá em Gonzaguinha: Começaria tudo outra vez. O que na voz de Maria Bethânia virou bolero, na cabeça de quem procura entender a vida nas palavras dos poetas, transformou-se num lema: é preciso começar outra vez. A cada situação da nossa vida, a cada mudança do destino, a cada vento ou cada tempestade, é possível, e muitas vezes é preciso começar tudo outra vez. Este começar está longe de deixar de ser o que se é, para ser outra coisa, mas é o contrário, é reconhecer o ser que se é, visualizar racionalmente os males e transformá-los, esse poder nós temos. Ouvi uma vez Paulo Coelho em um depoimento sobre as drogas, que a mesma retira nosso “poder” que é o da decisão, a frase além de simples é clara e cumpre seu objetivo.

A única força que você ainda pode ter passando no caos que estiver passando, é a força para mudar. O que na vida é estável? O que na vida permanece igual? O dia, por exemplo, tem seu complemento que é a noite, tem suas variações durante o mesmo dia, pode trazer inúmeras surpresas. As estações são quatro, mas quem poderá dizer que elas seguem uma linha totalmente cronológica e dataria? Hoje é dia tal, amanhã não será mais, são tantas horas, daqui a um segundo não será mais. Tudo na vida muda, estamos em constante mudança, mesmo que as vezes você não perceba. Ecologicamente evoluímos e regredimos. Politicamente vivemos sempre oscilando, e tudo isso é normal. Qual a mensagem que quero te passar? A de que você precisa por um instante para de se colocar como o coitado ou a coitada da história, assumir seus erros e mudar, geralmente nós sabemos quando e onde é preciso mudar.

“Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é” já dizia Caetano em “Dom de Iludir”. Sabemos a dor que sentimos, a angústia que sentimos, e mesmo que o mais fiel amigo queira entender nossa dor, nosso sofrimento, é impossível. Eu, quando estou perto de um amigo ou amiga que esteja em momentos difíceis, eu simplesmente fico ali, sem mais, sem menos, as vezes sem palavras, mas em alma, carne e espírito. Em Jesus posso ratificar tudo o que disse aqui. Seus ensinamentos fazem-nos compreender que é preciso reconhecer o erro, pedir perdão e não cometê-los mais, esse não cometê-los é mudar.

O convite que eu faço, com a fé, a convicção e o carinho que tenho, é que você possa entender que em certos momentos da vida você deve fazer o oposto, se tem falado muito, fale pouco, se tem gastado muito, economize. Sempre será possível recomeçar, não importa o que tenha acontecido, sempre, sempre poderá haver um novo começo, mas não depende de mim, da filosofia, de Deus, dos santos e mais, depende de você. A decisão é sua.

Com amor,

Arthur Silva

07/06/2019

Rio de Janeiro

Arthur Montenegro
Enviado por Arthur Montenegro em 07/06/2019
Reeditado em 07/06/2019
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