Num mundo de virtudes outras

Paulistana, 28 de maio de 2019

Primeiro de tudo, eu gosto muito de você.

Segundo, ainda estou digerindo os últimos acontecimentos.

Eu sei que tenho vários problemas quando diz respeito a me envolver afetivamente com alguém. Sou ansioso, me entrego demais, valorizo demais o que as pessoas tem de bom e foco nisso, vivencio tudo com intensidade, pressiono a pessoa, sou ciumento, paranoico e etc. Tenho consciência de tudo isso. As últimas cinco pessoas com as quais me envolvi terminaram comigo, ou me abandonaram definitivamente porque eu era demais pra elas. “Tu é muito especial”, “Tu é maravilhoso e merece coisa melhor do que eu”, foram algumas das falas que eu ouvi. Entraram na minha privacidade, criaram um ninho e não fizeram morada.

Em todos, a única coisa que eu pedi foi amor, respeito, verdade e disposição para caminhar junto.

Talvez o erro esteja em mim mesmo, por tentar perceber o que há de bom nas pessoas.

Mas a verdade é que tudo isso me frustrou bastante.

Ouvir aquilo domingo, mesmo que em parte eu deva agradecer porque deu pra sentir que foi de coração e a plenitude da verdade do que você está sentido, doeu! Doeu mesmo, sabe? Minha vontade foi de chorar. Mas eu engoli.

Eu vejo tantas coisas legais em ti, do tipo que vale a pena insistir pra ter junto.

Mas, depois de um tempo, tudo o que quero é paz, alguém pra compartilhar os dias, os sonhos, os medos, os acertos, os fracassos, os pesadelos, o pior e o melhor de mim. Alguém pra estar junto, de verdade. Que queira conversar, estabelecer diálogo, trocar intimidade e cria-la também. Não quero alguém só pra trocar um pedaço de cama. Eu quero alguém pra arrancar um pedaço do sorvete dela, numa mordida surpresa, porque o meu acabou, numa tarde de sábado, caminhando por aí, enquanto conversamos. Eu quero alguém que não tenha vergonha de mim, que goste dos meus amigos, do que eu faço, do que me tornei e que deixe eu entrar no mundo dela também. Eu quero alguém que esteja disposta a se tornar certeza e não dúvida. Eu quero alguém que se torne gargalhadas e não dor.

Depois eu recebi uma mensagem dizendo que gosta de mim e pedindo tempo. Entrei em combustão. Porque entre alguém que não quer ter um relacionamento sério e alguém que quer tempo há um espaço enorme.

Eu só entro em espaços que me cabem, que eu perceba que possa construir algo bom, saudável, que seja bom para ambos. Construir, produzir, colocar cada tijolo até ver onde dá. Entendendo que pode parar a obra a qualquer momento, mas estar de cabeça erguida por saber que não foi por falta de investimento e disposição. Eu sei dos riscos, mas só valem a pena correr quando tem sintonia das duas partes.

A única idealização que eu faço de alguém é de uma pessoa que haja com reciprocidade, que queira conhecer e viver meu mundo, que deixe eu conhecer e viver o dela e depois, aos poucos, que se permita entrar num trabalho conjunto para construir um mundo dos dois.

Eu me pergunto se isso é pedir demais, sabe?

Eu pensei em excluir teu número, te bloquear, sumir, não te ver nunca mais. Deu vontade de chorar. Mas aí eu senti uma pontada “lá dentro”. Foi quando eu percebi que você já faz parte de mim, de alguma forma e eu não saberia lidar com uma saída dessas, dessa forma, sem explicações, sem diálogo, sem esclarecimentos. Além de que não seria a mais inteligente e matura das posturas. E eu estou em buscar de ser um ser humano cada dia melhor.

No mais, eu só quero alguém que me respeite, um amigo, um companheiro, um confidente. Aquela pessoa que tu olha pra ela e vocês sabem o que ambos estão pensando. Mas sei também que isso demora um tempo, mas não passo pano, e sei que isso só acontece quando há certeza da vontade de fazer isso.

As pessoas tentam deturpar o real sentido de estar junto de outra pessoa. Eu não faço isso. Colocaram compromisso com pressão como sendo sinônimas e isso faz com que muitas abram mal de compromisso por medo de pressão.

Meu conceito sobre isso é outro.

É tempo? É não poder ter isso agora? É indisposição? É medo? É estar em outra? É ter outros interesses? É querer viver outras experiências e não essa? É o quê? Acho que nós humanos deveríamos nos fazer essas perguntas e conscientes de que qualquer resposta é válida, cada um é um mundo, cada um tem seu tempo, seus interesses, seus objetivos, seus sonhos, seus rumos e projetos.

Eu só não quero viver em eternas indecisões. Eu sou uma bomba e posso explodir a qualquer momento. Em dezembro eu decidi que iria viver minha vida de forma diferente, aproveitando-a da melhor forma possível, com coisas e momentos bons.

Eu tenho sede de viver e aproveitar o melhor das pessoas e do que há em mim também.

Att. Um Não Entendido