Não é saudade
Primeiramente devo me justificar: não é saudade. Ocorreu-me recordar os tempos em que vivíamos como irmãos, dominando nosso acervo de sofrimentos pueris e zombaria tosca. Éramos o mestre e o aluno, os juízes e o réu de um fim de mundo maldito.
O papel de sentimental sempre foi meu, enquanto de sua parte acuso a inexperiência. Queiram os céus perdoar-me a insensibilidade grosseira de hoje, mas é sabido que os corações só quebram uma vez, apartando os ingênuos dos bem-sucedidos.
Não é saudade, somos agora outras pessoas, soltas, desprendidas num mausoléu de chances e desejos. Tenho receio em dizer que não mais te reconheço, porém folgo em reconhecer a ordem natural da jornada. Qual o preço a ser pago pela clareza, meu Deus!
Aprecio, todavia, os serviços prestados com a lealdade de um interesse e rezo pelos nossos caminhos. A ausência que hoje habita em mim consegue ser mais bonita que a luz de sua presença, mas não consegue apagar a marca de saudade que deixaste. Não saudade. É recordação. Passado.
Não é saudade.