Uma mensagem para o cara de abril
Quase que você perde a hora, e eu a deixa para escrever. Você apareceu tão rápido por aqui, andando de um lado para o outro, que eu nem tive tempo de arrumar os livros que você tirou do lugar e de assistir os filmes que você indicou. O café ainda está quente na garrafa, e as canecas na mesa indicam que houve um caso ali. Houve uma história. Mas histórias sempre houve, só nunca foram. Você foi, e ainda é.
Você passou tão rápido por aqui, em uma visita de surpresa, que eu ainda estava com aquela camisa do Creedence amassada e no rádio tocava uma melodia arrastada que fez a gente escolher o silêncio algumas vezes, só para ouvir os versos e curtir o ritmo. Nós caminhamos pela casa enquanto você revia fotos antigas e a minha decoração retrô. Parecíamos dois protagonistas de um filme antigo que dividem um apartamento, e a vida também. Nós daríamos tão certo, eu pude perceber. Você deixa os sapatos na porta ao entrar, e ainda tem aquela mania de me deixar passar na frente sempre que vamos andar. Nossa história já foi, mas ainda é.
Você passou rápido no tempo da vida, mas no do relógio você até que demorou. Passamos horas recordando caminhos, relembrando detalhes e trazendo à tona vontades esquecidas, como subterfúgio para não assumir que não são vontades tão batidas assim. O sofá ficou pequeno para nós dois, o mundo ficou grande demais enquanto nos levava para lados opostos do tabuleiro. Ainda éramos fãs da mesma coisas, trabalhávamos na mesma área, e provavelmente éramos donos de um romance tão intrépido quanto Beauvoir e Sartre. Eu só não assumiria, nem você.
Você passou muito rápido por aqui, saindo às pressas para não se atrasar. Mas a bagunça que ficou foi esclarecedora: os sentimentos ainda estão no mesmo lugar que você deixou anos atrás, e o café ainda está quente. Não nos deixe esfriar.