De Xexéu para Mimita
Querida, darling, chérie, carina, liebchen, kochana,
como sintetizaste bem, naquela única frase - Aceita, que dói menos - o cerne do estoicismo para aliviar-me a solidão...- e com que raro fulgor e sinceridade, a marca indelével de nossa amizade, independentemente de abalos sísmicos e das procelas...
Inobstante, tenho a dizer-te Mimita que meu espírito indômito e libertário impele-me a dizer que não me dobrarão jamais, não sou homem de amar cela, como muitos pretendem insinuar...essas ilações, conjeturas e outras semellhantes imprecações terão, oportunamente, a resposta à altura.
Em meus momentos de recolhimento, literato-nato que sou, além de coordenar minha defesa, ampla, profunda, irrestrita e irrespondível, pretendo dedicar-me à composição literária que me vi forçado a interromper em razão das inúmeras e impostergáveis razões de Estado.
Tanto é, e disso és testemunha, que tive que estender a minha agenda presidencial, interina, e essencialmente republicana até altas horas da noite. Felizmente, aquele moço dos frigoríficos gravou tudo para comprovar a minha extrema dedicação ao trabalho. Extra horas, e extra-numerário, diga-se de passagem.
E, como sabes, com nítido prejuízo para as relações familiares, como poderá atestar minha conja com a qual, é mister que se frise, as relações são mais amorosas possíveis, sem a mínima ruga através de nossa já veterana e duradoura relação de almas gêmeas.
Tenho aproveitado cada minuto de que disponho para rever, reler e apreender, os teus discursos e pronunciamentos, sobretudo os feitos no improviso que evidenciam, além da retidão moral inabalável, a articulação perfeita de pensamento e locução, y compris, o memorável discurso que fizeste en français, quando de viagem à Europa. Peças de oratória dignas de um Cícero, um Demóstenes, um Churchill, um Fidel, e por quê não, uma Rousseffa..., um Jair Messias...
Bem, como o tempo está escasso e o correio sentimental fecha hoje às 13:00, impreterivelmente, gostaria de contar com teu valioso e imprescindível apoio em dois únicos quesitos que me vêm preocupando assaz: como sabes, é domínio público agora e não sei que pérfida alma o vazou, todas as minhas economias monetárias no momento, somam tão-somente 15 mil e poucos reais. Gostaria, assim, que me apoiasses no pleito de adiantamento de minha pensão de ex-Presidente, para a segurança de meus familiares que, podem estar na iminência de passar necessidade e terem que se inscrever no sistema de bolsa-família, onerando assim os cofres públicos de forma desnecessária e agravadora.
O outro item que desejo ver materializado é a presença por 24 horas de um valet de chambre para auxiliar-me nas impositivas necessidades sartoriais que a liturgia do cargo não só recomenda, como impõe. O bom e leal Henri Sobel já me prometeu algumas gravatas importadas, cujo catálogo estou examinando detidamente.
Com todo afeto,
Xexéu