Desencontros de amizades. O reencontro parte 4

Até que enfim te encontrei…

Com todo cuidado do mundo me dirige até o carro onde estava, rindo de mim mesmo ao perceber que o carro era branco e não azul como tive a impressão ao cruzar com vocês na rua, acho que fiquei tão eufórico em te ver que troquei a cor do carro. Mas tudo bem estou aqui agora, tive de me conter para não correr e abrir a porta do carro, te tirar lá de dentro aos beijos e abraços, tudo bem foi um devaneio da minha mente. Te vi através dos vidros fiz sinal para que descesse e conversássemos, ao descer me lembrei de como admirava o seu jeitinho o qual naquele momento pude perceber que você não perdeu.

[…]

Que estranho, eu não consigo me concentrar, as palavras estão saindo automaticamente não consigo pensar no que dizer, e em um suspirar mais alto me veio a mente… Calma, você está nervoso, concentre-se. Ao me acalmar um pouco percebi que já tínhamos conversado por um longo tempo e já era hora de partir.

E o presente! Eu preparei algo para entregar a ela, mas não desci com ele por precaução, alguém poderia ver o que estava acontecendo. Por diversas vezes eu estava te olhando as palavras saiam da sua boca e percorriam meus ouvidos, mas nada se comparava aos movimentos de seus lábios. Que vontade de entrelaçar em você com um abraço e sem culpa alguma encostar os lábios seus aos meus, te sentir, sentir até o seu suspirar em meu rosto ao nos beijar. Mas não tive coragem para isso, quem sabe depois…

E foi assim o nosso primeiro reencontro…

Dirige alguns metros atrás do carro que te levava para longe de mim, pairava no ar a essência do seu perfume, não sei se por causa da grande emoção em estar com você, mas era muito intenso aquele cheiro. Precisei desviar da rota, mas não sem parar e te avistar de longe subindo o ingrime caminho que cortava um dos últimos bairros da cidade em direção a fazendo onde estavam, havia chovido pouco antes, e no horizonte ao encontro do seu destino surgia gigantesca nuvem de um azul tão intenso, escuro, um conjunto de nuvens carregadas de chuva. Como em uma tela, dessas mais lindas em que podemos por olhos, estava a paisagem naquele momento, o céu donde estava, podia ver raios solares cruzando mansamente como se pincelasse a paisagem e em contraste o céu ao fundo pouco a frente no seu caminho a tela se alternava em um azul-escuro, profundo, mas doce ao mesmo tempo, bons ventos a levavam para longe.

[…]

Lembro que por uns instantes pensei em deixar tudo que tinha de fazer e mais que depressa aparecer na fazenda te fazer uma surpresa. Só que nada nessa vida é tão fácil, voltemos a realidade, fui trabalhar. Ainda com uma coisa me pesando os pensamentos, como eu ia entregar o seu presente.

Em uma de nossas conversas por mensagem, me disse que estava perto o dia de partir, eu me senti muito mal, você estava tão perto mais tão longe. Tinha que decidir logo como e onde entregar a carta e o presente que tinha comprado.

Como me disse que não teria muito tempo mais para visitas à cidade e que tão próximo estava a data de partida, decide que iria aí na fazenda te entregar pessoalmente, a carta que escrevi e o brinco que com muito zelo e carinho para ti, escolhi.

No dia seguinte levantei cedo, preparei tudo que precisava, fui atender um cliente na saída da cidade já estrategicamente agendado para que pudesse me ausentar. Lembro-me que estava afoito, não me continha em vontade de ir logo, mas em contrapartida estava com muito receio. Eu não podia pisar em falso, tudo tinha que ser perfeito. Passado algum tempo decide finalmente que iria, parti em direção a fazenda sem me lembrar direito o caminho, pois, quantos anos fazia desde a última vez? Mas em contato com você, que ainda incrédula de que eu realmente teria coragem de aparecer por lá, me passou as coordenadas para tal feito.

Ao chegar vi um filme passar aos meus olhos, aquela casa, o pátio, você…

Vindo ao meu encontro na porteira, àquilo estava mágico estava perfeito. Linda como ontem, me recebeu na entrada da fazenda com sua filhinha no colo. Nós nos cumprimentamos e conversamos um pouco, seus olhos me lembravam um tempo bom, sua boca me fazia delirar, seu cheiro me arrepiava até a alma. Estar ali com você me fazia tão bem que eu não queria mais voltar para minha vida, eu juro que não, minha vontade naquele momento era pegar em sua mão entrar nos três em casa e nunca mais nos separar.

Porém, como não são só flores em nossos caminhos, nos temos uma vida real para seguir eu precisava voltar para a minha e você para a sua. Te entreguei finalmente a carta e um saquinho de renda azul. Sobre a carta ainda não darei detalhes quem sabe em outra oportunidade, existe muita coisa pessoal nela. Mas o saquinho azul, dentro, tinha um bauzinho transparente com detalhes dourados ali estava um brinco muito bem escolhido que além de me lembrar seus olhos me fizeram pensar muito em você quando os escolhi.

Ao te entregar, você olhou bem dentro dos meus olhos e me perguntou.

— E para abrir só quando você for embora? Acho que foi assim que te disse quando te entreguei a sua daquela vez!

— Sim… foi assim que você me disse, e sim a para abrir só depois que eu for. Respondi

Mas outrora algo me consumia, que vontade de te beijar, queria tanto alcançar sua nuca com a mão te trazer para perto de mim, o suficiente para que a centímetros eu pudesse sentir seus suspiros. A milímetros quase tocar seus lábios e ao finalmente te beijar sentir seu gosto, seu calor, cheiro, até o seu estremecer em meio a nossa entrega. O ar começou a me faltar ao pensar que estávamos ali frente a frente ao alcance de um estender de braços…

E se? Ha… e se? Eis uma palavra tão pequena que me persegue desde o nosso cruzar de vidas. E se, nós nos entregássemos aqui agora, na sombra desse bosque a nossa direita, nos adormecemos um nos braços do outro em meios aos carinhos mútuos e caricias que só apaixonados de verdade entenderiam. Não posso descrever o quão bom seria esse momento, mas vivi alguns delírios assim em meus sonhos, e mesmo que não fossem reais, se chegassem a dez porcento que senti neles, garanto que eu viveria feliz o resto da minha vida.

[…]

Não aconteceu, infelizmente, mais uma vez não tive coragem para arriscar algo assim, porém, se me lembro bem nos dois ainda éramos casados, então talvez não seria correto fazer algo assim. Eu entendo que não tenha acontecido, apesar de não me importar se tive ocorrido, mas tudo bem. Me despedi, ganhei um beijinho no rosto, que sonho, me virei e sai a caminho do carro, me virei para te ver mais uma vez, você estava tão linda, o cheiro da terra molhada estava no ar, o som ao nosso redor era demasiadamente intenso, mas ao mesmo tempo, um coro que sibilava doçura, ao longe uma ave cantava, o cavalo dava o ar da graça com seu gruir ao pastar, mais ao fundo alguns sons normais de uma fazenda. Porém, o seu cheiro, não tinha igual, seu perfume estava intenso ao meu olfato, mesmo longe ainda estava presente, e como se tivesse me banhado em você. De dentro do carro pude te ver através do retrovisor se afastar rumo as sombras de umas árvores onde se podia ver um banco, provavelmente para ler a carta. Enquanto isso eu tomo o rumo novamente de minha patética vida, mas algo me acompanhava no carro, seu perfume, que insistia em esvoaçar meus pensamentos de realidade e me levar novamente em pensamento ao seu encontro. Andei vários quilômetros assim em meio a lembranças e a realidade.

[…]

Continua…

The Castle
Enviado por The Castle em 06/05/2019
Reeditado em 16/07/2019
Código do texto: T6640838
Classificação de conteúdo: seguro