Quando começa o ano novo?
Naquele dia, ouvi repetirem idosas promessas. Até de mim saíram sequeladas idéias. Na falsidade do momento, me fantasiei de noviça rebelde. Tão noviçamente ingénua que ignorei o status com bodas de ouro. E quem me viesse com verdades profanar, o urro da realeza decaptadora de cabeças eu iria ordenar. Pobre criatura fraca me tornei, que por uma besteira natural e ficcional me deixei levar. São costumes de quem consome sonhos sem um dia lembrar que não precisa mais de babador. Andei na rua com gozo sem nem se quer trocar de fraudas e enganando a todos que eu estava completamente higienizada.
O tal ano virou, e as explosões das luzes de várias cores me cegou. A descontração parecia diferente por ter sido às zero horas, mas o detalhe despercebido é que vinha deste uma tal dàs 19 horas do dia anterior. Até matemática eu senti desaprender. O ensino fundamental se desfez, o que valeu foi o superior, pois lá das estrelas despenquei. Esqueci que tais luzes celestes desaparecem quando o dia raia. E Clara se vesteria no dia seguinte para esperar o final do mês e receber o dinheiro para pagar a fatura do que consumiu no passado, e poderia não existir mais.
Eu ainda me faço de louca com esses dias que passaram. Tentei fingir que não continuaria ser quem sou, apenas por mais uma reorganização no calendário. Tentei jogar anos que me resultaram para trás, sem nem se quer ter notado que já estavam sequelados. A promessa de tal ano novo não acontece como mágica. Não há como reiniciar-me como uma máquina, tão pouco formatar e me livrar dos vírus e defeitos. Sou uma simples sujeita, viva nessa planeta, refém do tempo contínuo, não de soltos capítulos.
Com lamentações, Clara Nuvens.