Daqui da rua as estrelas não brilham

Ei!

Eu ja tive casa, moço.

Já estudei, fui até bonitinho, já quase casei mas ela me enrolou e... bom eu não casei , né. rs

Ela deve ter sentido o cheiro do fracasso que emana de mim.

Sabe, é pior do que essa fedentina em que eu vivo. rs

Já tive família: minha babá . Pai e mãe eu tive no papel, até tive certo contato com eles mas nada muito terno.

Viu moço, eu ainda sei palavra difícil.

Parentes, eu tenho mas sabe como é, tudo na base do toma lá dá cá e não deu mais.

Dói demais humilhação de quem a gente ama, dói mais do que as de estranhos que a gente nunca mais vê! E se vê nao lembra da nossa fuça.

Nem sei mais por onde eles andam. Um dia vi um deles, mas não me reconheceu ou fingiu... as vezes eu tbm finjo que não me conheço. Finjo que sou feito de cimento. Pq parece as vezes. Sabe, o pessoal nos ignora aqui sentado na rua.

Eu sempre soube que iria morar na rua, todas as portas se fecharam.

Minha babá, tadinha, achava que eu ia ser alguém ia dar orgulho. "Menino vc me dá orgulho". Que nada!

Mas tbm nunca roubei, nem me droguei. Isso faz mal.

Sabe moço eu nasci pra sofrer mesmo. Tenho cada lembrança que se eu falar pro sinhô, não paro mais de chorar.

Péra moço, eu não quero nada não. Eu só queria poder falar com alguém, mesmo que seja com o sinhô que tá todo bonito nessa foto.

(Amassa o pedaço de revista velha. Abre um sorriso triste e com lágrimas nos olhos olha para o céu, miope de estrelas embaçadas pelos olhos marejados)

Luciana Neto
Enviado por Luciana Neto em 08/04/2019
Reeditado em 24/08/2019
Código do texto: T6618183
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