Carta para ela

Ninguém é somente espinhos

e tão pouco é inteiro virtude

posso ter vaidade

mas não sou somente orgulho,

hoje vejo todo o vendaval

meu irremediável erro

sua inevitável reação

todo o avalanche de emoções

que automaticamente ricocheteou,

eu só estava tentando

lamento pela ferida que causei

a conclusão sempre permite respirar

contar ate dez quando a emoção explodir.

Eu estilhacei.

Não sou um monstro cruel porque errei.

Te cortei com alguns cacos, assumo

quando na verdade queria ser bálsamo

aliviar a imensa dor que me cegava

eu nunca te julguei

mas se pareceu assim

acho que não se pode evitar um fim

o turbilhão não me permitiu pensar

porém eu jamais iria mentir,

sei que você está seguindo como antes

que está feliz, e acredite, hoje é bastante

me doeu ao pensar que antes podia estar

e a distância também é culpa minha

porém enquanto humano estamos sujeitos a errar

e tropeçar para aprender a andar

eu assumo a minha parte,

não assumirei nada mais

ninguém erra sozinho, o caminho é acusar

mas nosso reflexo não poderemos negar,

me doeu tantas ofensas,

só quando fui capaz de compreender

que não eram mais do que resposta

o tempo implacável passou, o dano estava feito,

por que eu te forçaria a refazer o desfeito?

É muito tarde, eu sei, e entendo que não faz questão

sempre se é tarde demais para remissão

ainda que me espere um imenso não,

minha parte está feita e parto hoje em paz

me despedindo desse passado,

eu passei muito tempo sem chão

me conformo que assim é a vida, ação e reação

tudo de bom que deixou levo comigo

mais uma vez eu sorrio, por te ver bem

e saber disso me basta;

terei dignidade em me afastar

afinal o que não se sente falta nem diferença faz,

meu consolo é saber que suas dores foram curadas

não precisa ter visão raio x para se ter empatia

sua jornada eu respeito, e minha luta é só minha

não posso exigir que entenda minha natureza

nem me forçar a ter sua frieza

e creia, era tudo que precisava

admiro ser racional quem acima de tudo se prioriza

mas me fechar em meu mundo me feriria

a diferença do ser

é ver um oposto que fez parte de você.

Aprender.

Mesmo quando o laço se desfez.

Eu sempre tentei te proteger

te privar de ver o que vi

em parte eu consegui

ao te ver se tornar mais forte

pude então prosseguir.

Estarei aqui,

porém entenda que minha ausência é um presente,

afinal você não precisa mesmo de mim

eu sempre esperei ser apedrejada

talvez eu reaja assim pois é tudo que sei de mim

nunca pude pensar tão claro como agora

para viver cada dia nos é ensinado a perdoar

do contrário ninguém irá restar;

sou grata por tudo que se foi ainda que finito

passou e deixou uma valiosa lição

espero que tudo que fiz não tenha sido em vão.

Para sis.

Helena Dalillah
Enviado por Helena Dalillah em 12/03/2019
Reeditado em 26/11/2019
Código do texto: T6595872
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