A Morte do Corvo Cerúleo
Recentemente ouve-se um pedido interno, dentre farfalhadas e gritos ecoantes, chacoalham a estrutura de mim mesmo em busca de uma resposta infundada no abismo, a luz rodeando por escuridão num buraco tão fundo que a síndrome do porco-espinho não deixava com que a pobre criatura levantasse voo com suas próprias asas, onde se encontrava a vontade de se auto conhecer sendo que ninguém verdadeiramente amava-o?
Após encontrar escavando no sentimento de paixão; o amor, o pássaro se conheceu, descobriu que o abismo era apenas uma forma de se proteger do sol da inovação, e sua luz interna entrou em renovação tão profunda que pela primeira vez alguém lhe fez colocar o bico no chão e se entregar submisso ao Divino, arrastava-se devagar pelas paredes tectônicas do abismo, criadas pela colisão entre sua Ira e sua desconfiança de si mesmo, à ponto de desistir de procurar quem era e não conciliar com seu passado, deixar de ser dono de seu presente e tornar o desconhecido o seu futuro.
Quando realmente o amor quebrantou o coração de pedra que ninguém queria ser o herói mas a Medusa, caiu por terra o orgulho e principalmente, o altruísmo. O corvo arrancava suas penas em desespero, quebrava o bico por ódio e deixava cega as garras por medo, mas em um momento, quando a luz lhe tocou, ele viu que nada disso era em vão, conseguiu mudar e ser quem era, sem se ofuscar por quem não lhe queria bem, pela primeira vez, ele amou e se amou. A luz era quente, a visão estupenda, o espanto, o encanto, o medo do desconhecido mas curiosidade em forma de mistério lhe atiçavam, faziam com que ele procurava uma forma de querer ser, o corvo encontrou seu sabiá.
Passaram-se dias, meses e o corvo começou a querer mudar, bêbado de paixão, os olhos vermelhos de Ira e raiva interna se tornaram preto em fios azuis, voltava-se para ver as maravilhas que o mundo lhe proporcionava, até conseguir ver a Face de Deus, novamente reverenciando com o bico em chão, cravando as garras na terra e levando as asas em solo, por amor. Subiu em dedo onipotente, encarou a face Dele e seu único pedido de fundo da alma foi querer morrer, queria que lhe fizesse sangrar, regasse o mundo com seu sangue imundo para crescer o novo, fizesse uma nova cruz que não tinha vinhas de outras pessoas, o altruísmo de querer ser quem era, diferente de mesma essência.
Em praia, ele entrava consigo mesmo nas águas, havia o corvo das trevas, o corvo das chamas e o Corvo Cerúleo, reflexos de suas personalidades e atitudes passadas, os três molhavam os pés, esperando o momento de se mergulharem, todos estremeceram, tinham medo de mudanças, mas sabiam que era necessário, eles voaram e mergulhavam, o corvo das trevas se afogava, debatia em asas contra as águas e pedia socorro em farfalhos cacofônicos, sua Ira era completamente voltada para o desconhecido e por ter medo de ir embora, as trevas se afogaram por completo, seu corpo caiu em mar e foi-se para o profundo interno. O corvo das chamas queimava as águas, evaporando-a e não deixando-a tocar, mas as águas eram tão intensas pela renovação que ele petrificou em obsidiana, seu peso era tão grande que se juntou ao profundo mais fundo ainda, que em seu interior poderia ver os olhos vermelhos com lágrimas de sangue, ele nunca voltaria, mas existia e como ato de amor, sabia o que lhe esperava e mesmo assim mergulhou.
O Corvo Cerúleo, de penas negras se tornaram o azul céu pois a sujeira se ia para o mistério do oceano, os olhos piscavam em mudança, tiravam-se o vermelho da Ira por calma serena, que lhe assustou de primeira impressão, mas ele se aceitou. O bico rachado vinha-se em prata, mostrando sua sutileza, as garras ensanguentadas se tornavam douradas, o predador que era rei de si mesmo, seu próprio amor. Renovado, batizado, ele viu a face de Deus, viu seu passado desmoronar e o futuro abrir, o Corvo Cerúleo renasce em sua forma mais bela, sendo amigo da Morte mas não seu pássaro de senso comum, era o Pássaro-Sol que iluminava a si mesmo.
Graças ao Sabiá e seu amor,
Sendo eternamente grato por lhe dar seus três amores,
O dela, o próprio e o de Deus.
Escrevo para mim mesmo, para nunca esquecer o que ela proporciona em minha vida e eternizar tudo aquilo que eu sinto por ela,
Ao meu Sabiá,
Sarah.