Ainda que seja humano - Carta IV

Oi, mais uma vez me ponho a rascunhar algumas palavras a você, escrevi a lápis e reescrevi varias e varias vezes alguns trechos, queria ser o mais fiel possível à situação, queria te fazer sentir, me sentir por perto outra vez e confesso que o papel ao qual depositei a confiança de guarda meus sentimentos, sofreu por este privilégio.

Eu não sei bem porque te escrevo (hoje em especial), não houve muita evolução desde minha última carta, ainda não posso levantar um troféu ou ganhar um novo super poder por mudar de fase. Por hora me encontro aqui da mesma forma e de tantos altos e baixos não sei em que ponto estou, nesta montanha russa que chamamos de vida.

Entretanto há novas lições que queria compartilhar com você.

Para começar algo que não é novo mas que surpreendentemente ainda nos surpreende quando o constatamos: o ser humano é um ser terrível. Somos capazes de coisas tão pequenas e tão ruins, nós traímos a nossa própria espécie sem dó, qualquer outro animal luta pelos seus, mas a humanidade não.

E somos tão complexos de compreender, mesmo sendo racionais fugimos à razão.

Desculpa começar com algo tão denso, você sabe que a intensidade dos meus sentimentos é meu maior defeito, meu calcanhar de aquiles.

Somos um caso desses né? Nós nos magoamos e insistimos em nos magoar e insistimos ainda mais em ficar perto, talvez perto de mais, talvez sentindo os espinhos um do outro demasiadamente, é quase masoquismo.

Em outros momentos a necessidade de cuidar é tamanha que quase, disse quase, faz ser suportável toda a situação.

É confuso, estranho, humano.

Penso muito em parar, mas seria desistir, seria WO e isso pra mim é covardia.

Queria saber o que fazer, na maioria das vezes eu planejo, organizo, dirijo, mas perco o controle e me perco em seguida (isso daria uma ótima canção ou um esboço pra Aristóteles).

To cansada do mesmo cenário, da figuração , embora haja novos protagonistas nesse ato, e lá estou eu querendo cuidar e fazer aceitável as consequências.

E ficam muitas marcas do processo, penso em muda-las, transforma em algo admirável, mas há algumas que não sei como moldar.

Sinto falta de você me dizendo o que não fazer e me olhando com ternura enquanto eu dou aquela gargalhada, sinto falta desses momentos, dos que não posso mais acessar, nem em pensamento.

Estou me sentido incrédula neste momento, como se estivesse reformulando minha tese de crenças, o processo tem sido dolorido, cansativo. Mudar , uma palavra tão pequena com um significado indizível...

Sinto sua falta, essa é a razão pela qual escrevo. Embora humanos, somos essenciais a existência um do outro.

Embora racional ainda estou aqui, continuando aquele diálogo na vão tentativa de te manter viva. De te fazer saber de mim.

Se puder, ou quiser, me fale de você mesmo que seja uma composição nada harmônica de pensamentos em meio a uma crise de raiva, como esta aqui.

Eu me importo, me preocupo, mesmo sendo humana.

Jully Alves
Enviado por Jully Alves em 06/03/2019
Reeditado em 06/03/2019
Código do texto: T6591094
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.