A CARTA

Querida amiga, minha flor

Escrevo-te esta carta na maior dor.

Eu não sabia das surpresas da vida

Que tudo pode acabar num momento

Foi tão breve a sua partida

Que eu fiquei aqui no tormento

Lembrando as flores que plantamos;

A brisa do mar espalhada pela praia;

O verbo amar que juntos conjugamos;

O leve esvoaçar solene da sua saia...

Os seus fulvos cabelos em meu leito;

O doce canto do galo pela madrugada;

...silêncios são segredos do peito...

Puros suspiros, saliva partilhada...

Mas hoje eu sinto o frio da sua ausência

Ainda que, pelo dia, brilhe o sol quente

E esta tristeza me espanca sem clemência

E me deixa cada vez mais triste, doente...

É como se estivesse perdido num caminho;

Abandonado no deserto e sem sorte

E a cada passo sinto na veia um espinho,

Uma dor intermitente anunciando a morte...

Há vezes que eu perco o oxigénio

E vejo esmorrecendo o meu coração:

Amor eterno dura mais que um milénio

E não apaga, nunca, o fogo da paixão...

Vejo-te tão distante, tão longe

E não sei se poderei te alcançar...

Pelas noites medito como um monge

E me ponho, às vezes, a versejar.

Passo os dias consolando a minha dor

Passo os dias procurando ser feliz

E desse consolo eu só penso em ti, amor

A cura que procuro para curar a cicatriz...

E neste monte de tristezas, em resumo

Sinto na alma um inferno...confesso

Que sou um anjo perdido, sem rumo

À espera da sua luz, do seu regresso.

Com os saudosos e melhores cumprimentos

Vão nesta carta minha mágoas e sentimentos.

Receba os beijinhos do poeta que chora

E implora pelo seu perdão nesta hora.

Octaviano Joba
Enviado por Octaviano Joba em 01/03/2019
Código do texto: T6586858
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