Cartinha ao Lucas Louis

Meu bróder Lucas Louis,

Isto aqui é uma carta, portanto, a ditadura gramatical não será obedecida. Escrever carta é um dos raros momentos em que a gente vive o prazer da liberdade da comunicação. Estou fazendo meu TCC em Letras, focado no multiletramento e sociolinguística, com viés na linguística aplicada contemporânea, uma mistura de carimbó que está dando certo. O tema é a comunicação através dos tempos, a partir dos desenhos nas cavernas até o Instagram. E no final, tudo termina em teatro, que é a língua viva em ação. Mas, para o bem da sobrevivência da língua mãe, o texto literário tem que obedecer às regras gramaticais.

Mas não é para falar disso que ocupo o seu precário tempo, agora nessa emergência de casamento com a menina Elisa – um doce de delicadeza – e que faço votos que seja um amor eterno e verdadeiro como a poesia. E isso só será possível se houver respeito mútuo à individualidade. Casamento é soma, e não, subtração. Dividir, só as despesas, o carinho, os momentos alegres ou tristes. Ela não é obrigada a ir ao Maracanã com você nem você a ir visitar a sua sogra todos os finais de semana. Quando um se anula perante o outro, é sinal de divórcio à vista. Eu me casei várias vezes. O último está durando trinta e dois anos justamente por isso: a nossa vida em comum não anula a nossa individualidade. Façam assim e vocês ficarão velhinhos juntos.

E obrigado pelo convite. Teria imenso prazer em ir, mas é justamente no aniversário da minha mãe. Como ela já é bem velhinha, não sei se haverá outro. Mas não faltará oportunidade da gente fazer um brinde.

Grande abraço e beijos na Elisa.

Tom