Me deixe sozinho

Só me deixe sozinho. Me acompanha esse teu olhar por todos os lados e ângulos com essa expressão de medo - do seus sofrimentos na minha presença - e julgamento - do que eu faço ou deixo de fazer como se cada ato exercido por mim fosse uma fossa moral sob qualquer perspectiva -, como ferida encrostada na pele. Me deixe sozinho!

Há momentos em que penso estar à beira de um colapso, auto-controle se faz íntimo de mim e piada pra você, hilário. Mas a verdadeira graça, pra nós dois, é que te preciso violentamente e - você não vai me rejeitar agora, não nesse momento - sou tão necessário quanto. O abuso vem e vai, somos dependentes e vis, desamor.

Quando eu mais confiei, quando mais acreditei em nós, fui traído. Suas falácias impostas, intensas como pura e estrutural verdade me recolhem para aquém de mim, me doem, me absorvem. Essas força, esses movimentos - imutáveis, permanentes - desequilibram meu desejo de ser e de não ser, de querer, de entender, de continuar. Desequilibram meu controle... E a culpa, se existe tal coisa, é sua.

Me diga, qual a razão de você ser tão impiedosa comigo?. Não haja com esse cinismo naturalizado, seja honesta! Como você pode ser tão cruel e ter essa convicção lacerante de vou voltar? Eu criei uma barreira só minha e você não vai transpassar. Apesar de ser excruciante manter resistência, eu o farei e se torna mais fácil a cada minuto.

Passei muito tempo confiando em você, confiei que me esqueceria. Agora é hora de tornar-me realidade, nos tornar realidade. Viveremos agora embebidos de medo, teu pavor, tua fonte. Você mente, você finge e minha lealdade por nós começa aqui. Não seremos mais visitantes um do outro, não seremos mais partes de um todo, mas o todo. Saia do espelho e me veja, esteja comigo olho no olho.

Resolvamos agora a questão, encarar o problema. Não quero nada nos enclausurando em flagelo, nos afogando um no outro como água e óleo. Chega! Corremos contra o tempo pra agradar a todos, para sermos úteis, para sermos amorosos, mas quem realmente importa pra nós se não nós mesmos, meu amigo? O que fizemos por outras luzes e não pela nossa?

Me perdoa? Sei que é impensável, afinal, como seria possível perdoar alguém que nos fez viajar entre os sete reinos do inferno? Mas agora é preciso lidar com isso, sermos reais, sermos o que nascemos para ser. Por quê eu trairia você agora? Não somos amigos? Um em um? Vivemos juntos no medo, vivendo e fingindo, vivendo e transparecendo. Aprendi e continuo aprendendo. Volte para o espelho, fique em paz, vamos nos remontar, eu não vou mais te magoar. Nos magoar. Enfim, só.

Pedro Henrique Miranda
Enviado por Pedro Henrique Miranda em 15/01/2019
Reeditado em 15/01/2019
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