- Aveiro, 03 de janeiro de 1819.

Introdução

Leiam uma carta escrita em 1819, duzentos anos já passados, escrita por um parente e que não foi enviada. A carta foi encontrada no Baú da Toca do Gato, onde pertences da Família Paixão Silva guardam os seus escritos.

Pertenceu ao meu Tataravô, Manoelito Justino. Ele nessa época tinha setenta e cinco anos e se apaixonou por uma moçoila de pouca idade. Ficando um bom tempo sem receber uma comunicação dela e julgando-se abandonado a tristeza tomou-lhe o viver e veio a óbito poucos meses depois sucumbido pela amargura e o desprezo no viver fruto de uma grande tristeza. Descanse em paz!

=============================================

Aveiro, 03 janeiro de 1819.

Minha querida e estimada amiga de pouca data, mas de muita consideração, tenho a liberdade de enviar essa missiva a fim de saber de sua saúde. Espero encontra-la bem, dentro do possível é o que espero.

Soube pelo Edgar de Vasconcellos que ontem foste ao Nosocômio Municipal da cidade mais próxima para efetuar exames de rotina para verificação de sua saúde.

Aguardo ansioso o desenrolar das noticias, com a certeza de que tudo está em perfeita harmonia e tudo mais estará sendo resolvido com remédios paliativos e ditados pelo competente médico de plantão.

Ontem estive fazendo um passeio pelos canais de minha cidade e que muito conheces de belos passeios que fizeste comigo nas tardes primaveris de um abril que já vai longe.

Confesso que dessa vez o passeio não foi tão agradável de supor, senti muito a sua ausência, embora estivesse presente no meu pensar.

A maneira de enxergar os belos momentos transforma-se quando estamos ou em boas companhias ou quando elas já se fazem ausentes, são coisas do coração.

Sei de suas duvidas, que são próprias na flor da idade, com trinta e hum anos de primaveras muitas aguas irão passar por baixo da ponte.

Aproveito o ensejo é meu desejo de coração que essa data seja comemorada com muito afeto e alegrias num espaço muito enorme de tempo.

Saúdo os seus trinta e hum anos completados hoje que são bem vividos e da sua beleza ímpar que sempre admiro e que causa inveja em muitas moçoilas do seu convívio.

Infelizmente tenho noticias que o seu matrimonio que foi feito com muita pompa e glamour já está um tanto desgastado e chegado ao fim.

Quem sabe se o vosso miúdo venha a encher de alegria o vosso viver e tudo volte a ser como antigamente, afinal um filho sempre prende o casal.

Cuide-se sempre de sua saúde. Quero-te em plena saúde.

No mais estou na vida pacata de minha cidade vou progredindo para findá-lo dos tempos, já não me ofereço muita saúde e o viver está meio complicado. Disse-me o Dr. Salustiano Braga, que o meu mal é um mal difícil de curar, pois, sendo dependente do amor só um coração amoroso de uma bela mulher para melhorar o viver. Tenho esperanças! Quem sabe um dia quem eu amo em silêncio venha a perceber ou descobrir o meu querer.

Aqui me despeço e com o desejo forte de que os seus dias sejam de paz e harmonia e que tudo se resolva a contento no seu lar e que a harmonia volte a imperar. Conte sempre comigo. Não deixe de dar notícias.

Não se preocupe com o meu viver, sei me defender e ler-te é uma maneira de gostar de viver, pois, nas suas escritas me mergulho de cabeça e quero-as todas para o meu viver. Sempre me procuro nas entrelinhas de suas poesias e quando me encontro enche-me o peito

de uma felicidade sentida de um bem querer, tu sabes me agradar.

Aqui realmente encerro com muita fé e alegria e que tu sempre coloca no combalido coração desse velho caminhante que Deus está moroso no chamamento.

Do seu sempre admirador de todas as horas, receba o meu mais afetuoso e apertado abraço e um carinho todo especial em suas madeixas.

Com muita saudade!

Manoelito Justino.

------------------------------------------------------------------------------

LAURO PAIXÃO
Enviado por LAURO PAIXÃO em 09/01/2019
Reeditado em 16/11/2021
Código do texto: T6547114
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.