Loucuras em série VI - Cura

24 de dezembro de 2018

Querido amigo,

Eu gostaria que soubesse que estou melhor. Mais disposto, satisfeito e sociável, andando de ombros erguidos, inclusive. Isso soa engraçado, ainda mais para mim, que sempre andei cabisbaixo. Claro que há dias em que a tristeza me domina, mas ela não é mais capaz de me derrubar totalmente. Estou lutando e, dia após dia, avançando um pouquinho neste jogo da vida - que eu quase desisti no passado. Foi por um triz, mas o que importa agora é que tenho avançado muitas casas desde que as coisas começaram a melhorar novamente. Sei que isso não é para sempre e logo menos vou ter de dar alguns passos para trás, mas é o suficiente para que eu queira jogar mais.

Você pode estar se perguntando sobre o meu tratamento. Ele vai bem, felizmente. Por já tê-lo iniciado várias vezes, meio que me habituei a ele, e nem é tão difícil assim segui-lo, principalmente quando você vê resultado. Como estou vendo, às vezes vou no modo automático, e quando percebo, já fiz o que tinha de ser feito. Isso é muito legal porque mostra, como minha médica disse, meu "engajamento" no processo de recuperação. Bom, posso dizer que estou cumprindo com a minha parte.

O mais legal disso tudo é que voltei a ter sonhos. Sabe, fazer planos e ter esperança de que tudo vai dar certo, seja como for. E mesmo se não der, de que terei forças para me reerguer e consertar aquilo que deu errado. Não sei exatamente como isso aconteceu, mas antes eu só tinha pesadelos, e meu futuro parecia incerto e obscuro. Era como se estivesse em uma rua sem saída que, de repente, teve os muros destruídos e vários caminhos apareceram diante de mim. Na verdade, é como se eles sempre estivessem ali, mas eu é que não conseguia enxerga-los por conta do alto e tenebroso muro.

Sei que ainda tenho muito a aprender, e que este é só o começo de uma longa jornada, mas eu não quero me esquecer do que enfrentei para chegar até aqui. Isso é importante não para me tornar refém do passado, mas para traçar a minha própria evolução, entendendo por que faço o que estou fazendo agora, mesmo que eu quisesse fazer algo diferente. A vida não é como a gente quer, mas aprendi que, mesmo assim, tem a sua beleza. Só que às vezes é difícil de enxergar, não é mesmo?! Bom, ao menos posso agradecer por estar vendo isso agora.

Poxa, me empolguei e acabei escrevendo muito. É que sempre acontece assim: você chega com uma ideia na cabeça e quando começa a colocá-la no papel, ela se torna outra coisa. De qualquer modo, espero que goste. Por isso, gostaria de agradecer por você ter me acompanhado até aqui e enfatizar que estou melhor. Ainda me sinto um pouco só de vez em quando e algumas lembranças horríveis me invadem repentinamente, mas escrever me ajuda muito a superar esses momentos. Traz um alívio e entendimento difíceis de alcançar por qualquer outro meio. E é exatamente por isso que vou continuar escrevendo - para me curar e, quem sabe, curar você que está lendo.

Com amor,

Charles