Querida noite
Querida noite, aguardei você por um bom tempo, amo o Sol, mas cedo facilmente à beleza da Lua.
Quando você chega, a murta floresce e, ao toque do vento, a rua fica perfumada. Gosto muito quando falta a energia elétrica (mas só um pouquinho) porque aparecem estrelas que a gente nem se dá conta que existem. Os vizinhos saem para as calçadas e uma boa conversa acontece.
Querida noite, amo a luz. Mas você tem seus encantos, apreciada pelos amantes da cama, em todos os sentidos, para uns você é curta, para outros tão grande quanto os problemas que lhes causam insônia.
Mas tem uma coisa que gosto muito, é quando chove e as gotas de chuva entoam uma canção de uma nota só. Quando a chuva bate nas folhas das plantas, o brilho que podemos ver só é possível por conta da melanina que você oferece.
Sim, querida noite, a sua melanina recobre algumas horas do dia, de tal modo, que parece não nos dá outra opção que não seja chamá-la pelo nome.
Gosto quando você chega, porque é um dos poucos momentos que ouço a minha própria voz e deixo que ela escorra pelos meus dedos, apenas lamento não ter o gracejo dos poetas, mas uma coisa é certa, por sono ou por insônia a sua chegada meche com quem sonha acordado, ou não,
muitas vezes ao som de um rádio que toca bem baixinho uma música que fala ao coração.