Escritos para minha mãe...
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Mãe, ando destroçada, com o corpo perfurado e em chamas. Ando inocente pela vida.
Não sou como os ursos, mãe! Não tenho pêlos macios pelo corpo. Minha epiderme é seca e este é um dos meus segredos.
Não consigo decifrar o que queres para mim. Não decifro nem esse desconhecido que me habita; que puxa minhas orelhas e me cochicha baixinho. Acaso é um anjo que mandaste, para me observar, mãe? Se for, ele é bem ousado! Fala palavrão e me dá coices.
O mundo não é o que pensamos, mãe. A vida nos excede e temos que enfrentá-la.
Estou vazia e escura por dentro. Não tenho mais encantos. Tenho medo de não ser tão forte assim, como querias, como sonhavas.
Amanhã, irei à guerra novamente. É tão difícil sair, todo dia, desarmada.
Prometo mãe, tomar meu tranquilizante, corrigir minha postura e morrer mais um dia feliz.