A MENSAGEM QUE RECEBI DO VENTO.

Uma chuva forte caia lá fora. Olho pela janela e vejo numa bela vista, a cidade a meus pés se preparando para o encerramento do ano, para a grande festa da virada, a de Réveillon.

Meus pensamentos estão envoltos com as mais diversas questões, especialmente aquelas ligadas ao balanço de todas as atividades, dos acertos, dos erros e é claro sobre o que mais marcou ou aconteceu naquele ano de 2009.

Uma vontade intensa de externar as percepções sobre coisas simples, mas que de alguma forma foram importantes no ano, me invade, por isso comecei a escrever este texto sem ao menos dar-lhe um título.

Havia uma áurea especial, um resquício de noite natalina, um encantamento todo próprio e a verdade era que não tenho como dizer senão que aquele momento era mágico, tudo simplesmente puro natural e maravilhoso.

Uma estranha energia me contagiava naquele instante, talvez decorrente dos cristais luminosos formados pelas gotas d’água, interceptadas que estavam sendo pelos tênues raios de sol daquela manhã. O cenário era inspirador e propício para tentar compartilhar um pouco destes sentimentos e a beleza daquele instante único que minha alma desfrutava.

O barulho da chuva no telhado de zinco, ressoava no ambiente como uma sinfonia especial. Era uma música diferente, não tinha maestro, não tinha orquestra, mas tudo se desenvolvia como o ecoar dos cantos gregorianos nos mosteiros de São Bento ou o som de corais de anjos entoando músicas de Natal na capela sistina.

Queria deixar como um “Artur Moreira Lima,” que minhas mãos dedilhassem as teclas do lap-top, na expectativa de que a inspiração motivasse um poema novo, que pudesse ser musicado ou até que surgisse uma partitura especial para ser mostrada como uma nova composição. A percepção daquele instante era algo inexplicável era um presente dos céus.

Acho que nestas épocas de festas de fim de ano a vida fica mais bonita, a natureza mais encantadora, tudo toca aos nossos corações, ficamos mais sensíveis. Ao que tudo indica o mundo conspira à reflexão, as energias canalizam para um momento de paz, de união, de agradecimentos. O sentimento de fraternidade que é universal, querendo ou não permeia entre os povos, entre as famílias; até os animais parecem vivenciar estes momentos de beleza e congraçamento. A natureza comanda a transformação, tudo fica mais belo, as árvores ficam mais verdes, os frutos são mais abundantes, afinal é época de plantio, que significa futuras colheitas, fartura, base sólida e necessária para a perpetuação das espécies.

E sobre esta constatação, chamou-me a atenção um fato simples naquele ano, não se viu o dourado dos ipês no último inverno. Senti sua falta, não o encontrei por todos os lugares por onde andei, apesar de uma procura incessante. Este fato foi percebido por outras pessoas que também não viram a espetacular presença das flores amarelas. A falta da flor do ipê, ou de outras tantas do cotidiano sertanejo, levou-nos a cismar que algo estaria por acontecer, que alguma coisa diferente poderia estar por vir.

Na verdade tudo isto decorre da nossa gênese guarani, ou tupiniquim, pois hoje neste solo continental não existe uma raça pura, mas uma miscigenação de várias delas, para o orgulho de um povo diferente, alegre e acolhedor. Mas se por um lado a linda flor de ipê não apareceu na primavera e a natureza deve ter lá suas razões, outras coisas belas deram lugar, por exemplo, parece que aquele era o ano da concepção. A população certamente seria aumentada já que estava precisando ser renovada em bases mais sustentáveis.

Constatação apenas, mas o fato é que inúmeras figuras midiáticas e do nosso relacionamento, de forma perceptível, conceberam filhos e aguardavam ansiosamente o nascimento dos seus herdeiros. Da mesma forma, a natureza que é sábia e ainda desconhecida, nos brindou com outros acontecimentos simples mais belos.

Os mandacarus que só florescem na seca e quase sempre no agreste nordestino, naquele ano esbanjaram a sua beleza dando flores maravilhosas, de forma e brancura nunca vistas em todas as regiões.

Foram sinais inexplicáveis que saltaram aos olhos, mas que a maioria não viu, pois não dispunha de tempo suficiente para parar e observar, fatos pitorescos, eventos simples, mas marcantes como aqueles, que podem não significar muito, mas eventualmente podem representar grandes transformações.

Que bom foi ter a oportunidade de vivenciar tudo aquilo, cada dia, cada fato, cada quadro momentâneo. É a vida, a presença do criador em cada elemento mostrando a grande diversidade, o grande mistério da criação.

Neste contexto, de reflexões especiais, marcou-me a presença de uma filha, muito querida, que de forma diferente, com carinho extremado, com dedicação espontânea, cuidava do seu pai, trôpego, enfermo, já por longos e penosos anos de calvário e sofrimento. Ela abdicou da sua juventude integralmente, para se dedicar devotadamente a cuidar daquele que lhe proporcionou a vida e que por um infortúnio ficou dependente, sem comunicação, sem movimentos.

Neste mundo de transformações, onde a consideração quase não existe, para mim foi destaque e vai ficar para sempre marcada na memória a sua entrega, a sua doçura e dedicação, razão da minha escolha para fazer esta singela homenagem. Ela se chama Viviane, para nós seus familiares sempre foi Vivi, símbolo de vida, força, coragem, abnegação e é claro, símbolo de AMOR. Morena índia, brasileira da gema, linda, cabelos negros, olhos castanhos cor de jabuticaba, das mais doces de Sabará. Minha sobrinha por afinidade. Minha referência de ser humano. Ela merece este texto, foi em sua homenagem que o escrevi, foi pensando nela. Carreguei-a no colo, a vi crescer, florescer. Sei da sua dedicação, nunca tive coragem de falar-lhe, dizer-lhe pessoalmente e dar-lhe um abraço e dizer deste meu reconhecimento.

Sei do seu calvário, conheço a sua história e portanto, peço desculpas por não ter a delicadeza de pessoalmente dizer tudo isso, até porque não quero que veja e sinta a emoção que me invade. Não consigo segurar os sentimentos e as lágrimas que rolam de forma descontrolada, por cima dos poucos fios negros da minha barba grisalha. Um misto de impotência, de covardia talvez, mas preciso continuar, pois tenho uma missão importante, que me foi encaminhada pelo vento. Vento que cisma em desmanchar as poucas mechas de cabelo que ainda restam, mas que serve de mensageiro, para falar o que é preciso, quando alguém não pode falar, fica emudecido, fica impossibilitado. O vento então se incumbe de representá-lo, esta é a missão do vento. A outra da materialização da mensagem é a minha missão. Foi a mim delegada não sei ao certo por quem, mas tenho certeza que não foi indicada outra pessoa e não foi por acaso que isto aconteceu. Fui escolhido, apesar da minha fragilidade sentimental, esta é a minha parte, este é o meu papel.

Na noite de Natal, após as comemorações tradicionais, deitei-me e dormi quando sonhei com Papai Noel. No sonho, ele como portador de mensagens diversas, me incumbiu de transmitir a mensagem para ela, razão de eu estar lhe escrevendo. Ele disse que trazia presentes de todos os pais, dos ricos, dos pobres, dos fortes dos fracos, dos sadios e dos enfermos.

Enfim de todos os pais do mundo e em nome do pai dela, ele Papai Noel, saiu naquela noite cumprindo sua missão, pois todo pai tem uma missão, o filho nem sempre. Só quando se é pai, ai sim, os filhos saberão do que estamos falando. Mas existem filhos diferentes, que mesmo enquanto filhos assumem o papel de pais, com os próprios pais. Assim foi e é Vivi.

Papai Noel, disse-me no sonho que o pai dela, PEDRO, gostaria de dar-lhe um presente naquele Natal e não podendo expressar, me incumbia de dizer para ela o que ele gostaria de falar pessoalmente, mas naquele momento não podia.

Não seria nada especial, mas palavras de reconhecimento, de agradecimento. Ele não podia, porque a sua Cruz era aquela, que ele deveria carregá-la até o dia que o Senhor do Universo determinasse.

Tudo estava previsto, cada um de nós tem o destino traçado, está escrito nas estrelas, foi Ele o Senhor dos senhores quem traçou o rumo, o destino de cada um dos seus filhos, não existe explicação, para trilhá-lo não precisa instrumentos de precisão. A nossa cruz, ninguém poderá carregá-la, faz parte de um processo natural, não se explica, é só nossa.

Então quero dizer as coisas, que ouvi no sonho, por isso, diante de cada colocação, subentenda-se:

• -" Minha Filha Querida" -.

- Quero lhe dizer que percebo tudo que você tão carinhosamente me faz.

- Percebo que você se sacrifica para se dedicar de forma devotada e especialmente humanitária para ajudar carregar minha cruz.

- Gostaria de lhe abençoar a cada manhã pedindo a Deus para que guie os seus passos, ilumine o seu caminho e a proteja sempre para ser muito feliz.

- Que você seja um espelho de bondade, de fraternidade para tantas pessoas que sequer sabem o que é ter um pai, uma família, um irmão. Talvez vendo o seu exemplo, mude um pouco, fazendo com que o mundo se transforme, melhore cada vez mais.

- Que a sua dedicação sirva cada vez mais para fortalecer este elo de união maravilhoso, que existe em nossa família, fazendo com que todos permaneçam de mãos dadas como sempre foi, nos momentos de alegria e também naqueles de turbulência.

- Que a força, a garra e a determinação nunca deixe de ser a marca diferencial desta nossa união, especialmente a sua.

- Que você se cuide para permanecer eternamente essa menina doce, amável, linda e acima de tudo que mantenha este seu coração, recheado de amor para distribuir para todas as pessoas que de você se aproximar e precisar.

- Que ame sempre todos os irmãos, seus familiares, com a mesma intensidade que tem se dedicado a mim. Cada segundo de amor doado ser-lhe-á multiplicado em milhares de horas, na contabilidade do Pai do Céu.

- Obrigado, Anjo da Guarda, por tudo que tens feito e que sei continuarás fazendo por todos nós.

- Que nos ame sempre, porque TE AMAREMOS ETERNAMENTE!”

Vivi, desculpe-me se estas palavras não são as mais adequadas, mas lhe digo, saíram do fundo do meu coração, - talvez trazidas pelo vento - por que se eu fosse seu pai, lhe diria exatamente isto. Um beijo de pai, para você.

Boas Festas e um Ano Novo cheio de Paz e Felicidades.

Do tio-torto que endireita de tanta admiração.

Com muito carinho.

“Titoninho.”

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E não demorou muito o vento voltou outra vez para levar para sempre a doce cruz da Vivi.

AGOOLIVEIRA
Enviado por AGOOLIVEIRA em 09/12/2018
Reeditado em 18/02/2019
Código do texto: T6523085
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