NUANCES DA SOLIDÃO
Aos poucos o tempo desenha seus contornos, suas marcas
Seus sons, seus ruídos
Por ora em sombras que definham aos poucos nas paredes de meu quarto
Por vezes no tic tac sintético e ininterrupto do despertador
A cada contorno...um momento
A cada som...um espaço
Aprecio as formas geométricas do sol...quase posso tocar suas linhas
E derepente o breu momentâneo que sua ausência abrupta provoca em meus olhos
Novamente...a escuridão
Nesse momento o ruído intermitente do relógio instiga meus instintos mais rudes
E seu toque agora é cada vez mais consistente como as batidas em meu peito e a respiração ofegante
Reconheço e questiono meus pensamentos mais escuros e em seguida os ignoro
Devagar e sorrateiramente o ruído foge dos meus ouvidos
Ele não tem mais minha atenção, meu foco
Seu ruído agora é quase inaudível
Outros sons enchem meu espaço
O vai e vem frenético dos veículos no asfalto
Os animais latindo nos portões
O estalar dos reencontros no final do dia
Já passou das seis...
Saudades de outrora invadem minha mente
Em qual instante desse tic tac me perdi no tempo?
A relatar as sombras de vidas que desconheço?
E a reconhecer os sons de outrem em meu silêncio?
Que horas são?
Drica Barreto