Jardins da Água

Não sei se posso te chamar de Néscio hoje, W. Todavia você ainda é um acólito. Qual edifício tens construído nesses anos? Quais projetos são traçados nessa cidade secreta? Olho para ti e vejo uma fonte de diferentes tijolos. O garoto morreu. Deixe os mortos se enterrarem. Misturaste tanto as cores que não é mais capaz de distingui-las, mas aprendeu melhor desenhar no preto e no branco, na luz e na sombra. Vejo apenas a dor que isso deixou ao partir.

Está sozinho, meu caro. Não há amigos. Não há estrada. Não há ninguém! Que as minimalistas batidas encontrem ritmo no peito. Aos poucos tens aprendido as regras, mas ainda é difícil jogar. Um portão aberto e um castelo destruído. Um corvo no ar e espadas desembainhadas. Um movimento em falso e uma cabeça numa espiga.

Você apenas espera o momento, ainda na dúvida que um dia virá. Que os jovens lutem suas guerras! Que o sangue pinte a grama! Que as canções sejam entoadas! Enquanto isso observa a tudo sentado ao doce som de uma fonte do Jardim.

Contudo os dias não chegam e a paciência prospera. Os tolos o julgam por resignado, mas é peculiaridade deles a ignorância. Um dia o leão adormecerá em meio à noite, o sol ardente brilhará mais uma vez e as muitas vozes se calarão.

WBG
Enviado por WBG em 24/11/2018
Código do texto: T6510973
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