AINDA ESTOU AQUI - Carta II

Ainda não confio em carteiros (desculpem-me), e realmente preciso que recebas, que leias, que saibas de cada coisa que tem-me acontecido.

Já se passaram 750 dias após minha primeira tentativa de ainda manter vivo o nosso convívio, ainda que tão distante. Na primeira carta eu quis lhe fazer presente em um momento impar da minha vida, precisava que você fizesse parte, que também saborea-se cada gotícula de felicidade, de orgulho, de vontade, de tudo que se resumia aquele momento. -eu sempre precisei de você por perto, mas nunca soube como demostrar isso e eu não sei como ou porque não consegui fazer você ficar-.

Ainda estou aqui, no mesmo lugar que outrora lhe descrevi, mas não sou mais eu, não há euforia, não sobrou muita coisa.

Graduaria dentro de alguns meses, mas como sempre a vida não segue o meu roteiro, não me ouve, ela simplesmente vai acontecendo e eu que me adapte, que me conserte a tempo de seguir.

Ainda vou a Brasilia mas como sempre só de passagem, ainda não me convenci a voltar pro lar (ou para lá ando meio perdido no quesito de pertencimento). Sobre o casamento, relacionamento e todos os "mentos" desse gênero definitivamente desisto! Sabe aquela história que cada panela tem sua tampa? Bom cheguei a conclusão que nem para ser utensílio de cozinha eu sirvo (Não dessa vez não é drama!) , Estou cansada de amores unilaterais, de falta de reciprocidade assim como de profundidade, as pessoas morrem de medo de se entregar, de deixar acontecer eu já tenho medo de não viver tudo que posso. (Bom ainda farei 27, então ainda está no nosso roteiro)

Parei e voltei a beber diversas vezes desde nossa última conversa, agora somente beberei o nosso vinho se acaso um dia chegarmos a abrir aquela garrafa que guardo a anos pra você! Aquela pequena liberdade que experimentei está desenhada na minha pele, certa vez li que "tatuagens é Tanto amor a arte a ponto de inseri-la na própria pele" , achei lindo, poético, romântico (definitivamente me descreve ) mas no meu caso foi uma vontade imensa de viver e precisava de algo que me lembrasse sempre o porque de eu ter continuado.

Ainda sou adepta à mudanças, volta e meia vejo um novo personagem no espelho, mas tenho medo de ter me perdido em algum destes ao longo do caminho. Eu continuo crescendo e amadurecendo, descobri que as experiências que provocam a evolução são demasiadamente duras, a sensação é de estar abraçando um cacto sendo eu um balão azul.

Eu não tenho mais medo do escuro, na verdade descobri que os verdadeiros fantasmas vivem do lado de dentro. As aranhas ainda são meus calcanhar se Aquiles.

Acho que eu me envolvi demais na solidão que me cercava, quando perdi o medo de estar só, de viver só, eu alimentei uma certa preguiça de sofrer por qualquer pessoa. Então deixei de fazer Questão de muitos que não faziam questão de mim, e aos poucos vi "amigos" descer a ladeira da portaria sem sequer acena ou olhar para trás.

Eu fiz aquela viagem e para a minha tristeza você não estava por lá! Pra minha tristeza você não está mais aqui !

Ah encontrei um ponto de luz no caminho, um cuidado especial, um alguém talvez tão quebrado quanto eu, e talvez isso tenha nos aproximado tanto, muitos risos devo a ela e não sei se um dia serei capaz de agradecer!

Ainda não voltei a cantar essa forma de expressão me dói em demasiado. Tô experimentando uma nova maneira de me expressar , quero muito tocar algo que toque você um dia. Esperei muito sua resposta, necessito saber de você! Me deixe estar presente novamente, deixa eu saber que você está bem! É por favor esteja bem! Continue a se cuidar, eu realmente me importo realmente preciso te ver bem.

Bom não consigo continuar, os nó na garganta já subtraem o espaço para o ar, as lágrimas já turvam a vista, preciso salvar o papel!

Me fala de você, deixa eu sorri junto (ou chorar se for preciso) deixa eu sentir que não está tudo definitivamente perdido. Ainda estou aqui!