Querida Eu
Me lembro de quando era tu,uma criança, e tudo que queria era sair correndo pelas ruas com o vento batendo em seus cabelos. Tinha tanta energia,tanta vontade... com seus poucos amigos brincava todo dia,despreocupada com o amanhã. Rindo de uma piada sem graça,brigando por nada,falando coisas sem sentido e se rebelando contra a mãe. Vivendo como uma criança normal,eu diria. Tenho uma memória fotográfica,então lembro de quase todos os momentos apenas por imagens. Elas surgem no fundo da mente e eu volto a ter a mesma sensação do que senti há anos. É estranho. Quando a imagem de mim brincando de pega-pega,correndo como se o diabo estivesse me perseguindo surge, eu paro e apenas sinto a liberdade que senti. Tão simples, libertadora e ingênua. Eu posso dizer que vivi realmente naquela época.
Hoje já não posso dizer o mesmo. As sensações são cada vez mais intensas,fazendo com que eu me proteja de tudo. Meu refúgio é meu quarto,querendo apenas desaparecer e não ver ninguém. Esperando que o amanhã seja menos entediante,que eu saia para fazer seja o que for e volte para meu cativeiro me aprisionando com meus fones e minha cabeça que gira sem parar. Me pergunto se tu ficaria decepcionada. Eu a abandonei,perdida no fundo da câmera. Desculpa,essa versão de ti é a pior e tende a piorar com tempo. É isso que a vida faz com quem cresce. Ela te esmaga aos poucos,fazendo com que sua alegria seja contida e suas tristezas prevaleçam no fim do dia. "Vai ficar tudo bem". Não,não vai,pequena eu.