Cartas para Srta. Florbela e uma menina sempre se lembra o primeiro cadáver que ela barbeia
Srta. Florbela,
Como estou me sentindo? Desencarnada, pode ser?!
Desculpa, demorei tanto para responder que a chuva já deve ter passado e o café, com certeza, ficou frio. Às vezes, eu simplesmente demoro mais do que um século.
A solidão tem cavado espaço em meus ossos, fazendo morada na pele e alma, se é que existe. Ando afogada na maldita dor, minha velha conhecida, afinal, “uma menina sempre se lembra o primeiro cadáver que ela barbeia”.
E você, minha querida amiga, como vai sua inspiração para o livro? Ando me queixando tanto observando apenas o meu umbigo. Quanta idiotice aguenta de mim, sendo uma pessoa tão cheia de genialidade como é feita a Srta.
Eu sou uma pata, vivo reclamando que o dia começa já terminando; não consigo fazer muitas coisas. O tempo passa e a Banana patinando. Talvez, seja a única coisa que tenho feito por inteira. Quanto ao cadáver, começou a feder. Eu temo que em breve revele a mente perigosa. A minha.
Com o mais zeloso carinho,
Andromedra.