Você, Freud e meus sonhos.
Em quais coisas devo pensar quando encontro você em meus sonhos realçando todas as cores e sentimentos que não sabia existir?!
Eu guardei sua confissão num bloco de notas que carrego comigo. E isso parece ter algo a ver com meus sonhos descabidos e inconsequentes. Devo manter a ética do consolo inalterada, mas não sei como.
Certamente, ao enxergar você vivendo sem pudores foi cruel. E Freud estava lá a me mostrar que todo o tempo passa rápido e há sempre motivos para se arrepender.
Seus cabelos compridos, o rosto feliz e o corpo banhado pelos rios que não me lembro. As brincadeiras entre as pedras tornavam clara a minha situação. Existia um vão que não me pertencia, mas me mantinha firme com os pés na areia a olhar. O tempo corre quando não participamos das coisas que são.
Atua. Encena. Beija.
Eu não via o desmonte da alegria que logo me sucumbiria e me jogaria ao longe, num deserto de pessoas, e você não estaria. Eu não estava. E entre diversas falas curativas, que deveriam me dispor acima, eu não estava. E não era mesmo para fazer sentido.
Eu andava por entre os vãos.
De qualquer maneira, eu estava lá. Olhando, admirada com todas as coisas que não me pertenciam. E ao abrir mão de mim, pensei que seria o ápice do meu medo. As coisas podem piorar. Freud me surge como um aparato imaginário da minha própria consciência me lembrando que tudo é fruto das minhas próprias escolhas. E isso inclui o não.
Ao me deixar, eu senti. Provavelmente, como me sinto agora. Eu queria sentar e deitar junto ao seu sonho. Esquecer dos meus e ser ou estar...
Eu andava por entre os vãos que só o tempo cria...