Catânia, Sicília, num dia de neve abundante, de 2006
Minha doce senhora, Clara do meu coração.
A tua carta me comove e me entristece ao mesmo tempo. Tu vives longe de mim e a distância não me permite falar-te de outro modo, não somente com palavras, do amor que eu sinto por ti e do afeto que nos une.
Aquele senhor que numa noite chegou a ti através de um anúncio na Internet, aquele senhor que na foto aparecia por trás da mesa a ler um livro, é ainda aqui, só pra ti. Tu não deves nunca pedir-me permissão para beijar-me, tu és e será sempre a minha rainha, a senhora que os meus sonhos transformaram em realidade.
Tu não deves nunca duvidar do meu amor por ti. Porém eu tenho algo para dizer-te e não para reprovar-te. Por muito tempo o teu senhor sofreu muito por haver sido deixado de improviso pela sua dileta amada. E dela, desaparecida na neblina de onde chegou a noite sem fim, não teve mais nenhuma notícia. O senhor de quem tu falas, não obstante o silêncio, algumas vezes escreveu à sua amada brasileira, mas não teve resposta.
Sobre o amor, disse o escritor italiano Carlo Castellaneta: “o amor é impalpável, é como uma essência volátil, uma coisa que estava aqui e agora não está mais...”
O amor nunca deve ser deixado sozinho, ele deve ser guardado, cuidado com zelo e tratado continuamente. Basta um segundo de distração, talvez de não querida indiferença, para que o amor escape, se dissolva no ar, exatamente como uma essência.
Eu não tenho e nem terei outra mulher. Tu és minha rainha, a única mulher que está sempre perto de mim, apesar da distância que nos separa. Eu te amo, Clara.
Se sou teu príncipe e teu escritor amado, como afirmas docemente ao telefone, não me abandones novamente na noite escura.
Para sempre teu, Enzo
Hull de La Fuente
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