Ecos da paixão
Bonjour mon amour.
É com muita satisfação que leio sua calorosa correspondência.
Ela fez um rodeio até chegar a mim.
Tive um colapso em Carcassonne e eu mesma precisei me trancar neste quarto isolado na casa de repouso 20 km de lá.
Três dias antes deste episódio, eu realmente estava me embriagando dos vinhos como você mesma supôs. Odeio o fato de me conhecer tão bem!
Tive um blackout, meus amigos me colocaram no veículo, e fui vomitando enquanto “dormia” no carro até chegar em casa. No dia seguinte, não me recordei de nada, precisei me apoiar nas lembranças alheias. Minha amiga me disse que meu fígado estava sobrecarregado de emoções deprimidas, pois eu não havia bebido tanto ao ponto de entrar naquela quase convulsão alcóolica. Vai saber...
Estou bem, obrigada. Tentando me desintoxicar de você.
Com os vinhos a coisa é mais simples. Posso me livrar de todos eles, e nunca mais comprar uma garrafa se quer. Mas quando o assunto é te esquecer, a mente automaticamente rejeita. Ela insiste em chamar pelo seu nome. É como se fôssemos duas coisas distintas: eu, sem vida, e minha mente, cheia dela.
Neste quarto branco eu tenho tempo de sobra. Porém, não tenho nada e ninguém com quem gastá-lo.
A solidão que acompanha o meu sentimento por você até que é gostosa. A única parte que me incomoda é saber que sempre me alimentarei de papéis cheios de palavras. Entretanto, o colo carinhoso ou o brilho dos seus olhos, nunca poderei tê-los.
Bato a cabeça nas paredes enquanto grito meu próprio nome, o eco que escuto me acalenta, fazendo com que eu pense que é você que está me chamando. E assim, passo meus dias esperando a noite chegar para eu adormecer e esquecer toda a dor.
Gostaria que tivesse mais coragem. Mas eu te perdoo, pois sou tão covarde quanto você.
Eu gostaria de ir junto com este papel. Talvez um dia, quem sabe.
Receba com carinho as minhas notícias.
Vou evitar esperar outra carta vinda de você, porém, não se sinta intimidada por esta revelação. Ter um pouco de você é sempre um deleite.
Yours, M.S