Escoteiros e escoteiras do Brasil
Senhores responsáveis pela União dos Escoteiros do Brasil,
Li com surpresa e muita tristeza, no nosso noticiário, a carta comunicando que o 1º artigo da Lei Escoteira havia sido modificado (provisoriamente), e que tal esdruxula modificação deveria ser considerada no próximo Conselho Nacional (2018).
Qual o problema que foi agora encontrado com a expressão: O ESCOTEIRO TEM UMA SÓ PALAVRA E SUA HONRA VALE MAIS QUE A PRÓPRIA VIDA?
É radical demais pois a coragem e a coerência estão fora de moda? Um comprometimento moral para toda a vida passou a ser algo relativo, que pode ser modificado por novas situações?
O movimento escoteiro é um baluarte, um dos últimos baluartes da honra, nas sociedades que se dissolvem nas regras das sempre variáveis das sentenças do "politicamente correto", da amoralidade militante em todos os setores das sociedades.
Em 1952 quando fiz minha promessa fui "armado" escoteiro, (com um Cavaleiro), pelo meu querido e saudoso chefe, Isaac Bauler ,(Grupo Escoteiro Guia Lopes, em Porto Alegre): " Te armo Escoteiro do Brasil para maior glória de Deus, defesa da pátria e proveito do próximo". Assimilei este compromisso que, garoto ainda, me entusiasmou por toda a vida, sempre lembrando do 1º artigo da nossa Lei. Milhares de jovens, (talvez milhões), desde 1907, fizeram esta mesma promessa, acreditaram nesta mesma Lei Escoteira que agora querem, irresponsavelmente, modificar profundamente. Mudar para algo mais "brando", menos comprometedor do que a radicalidade do "que sua honra vale mais que a própria vida" é, hábil, solerte e covarde se adaptar assim, cedendo, aos tempos modernos. É uma bobagem enorme a argumentação de que o atual artigo não corresponde ao texto original: - e a tradição deste século de trabalhos não vale nada? O que significou para milhares de vidas, não importa?
Escoteiras e escoteiras não são melhores nem piores do que os demais cidadãos e cidadãs: - SOMOS DIFERENTES POR ACREDITARMOS E PROCLAMARMOS, HÁ MAIS DE CEM ANOS, VERDADES QUE NÃO PODEM SER ESQUECIDAS, NA FORMAÇÃO DA JUVENTUDE E NA MANUTENÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DOS VALORES DO HUMANISMO E DA DEMOCRACIA.
Meu pai, Bonifacio Antonio Borba, foi um dos funadores do Movimento Escoteiro no Brasil. Correspondia-se do Badem Powell, foi Chefe Escoteiro, do ramo Mar, presidiu a UEB e a Região do Rio Grande do Sul, era detentor do Tapir de Prata. Meu irmão Carlos Borba, escoteiro, criou, agora nos anos de 1990, o Centro Cultural do Movimento Escoteiro, resgatando nossa história e documentando nossa trajetória, também era detentor do Tapir de Prata. Eles me dizem e me inspiram agora à levantar-me contra esta novidade que querem introduzir, como inicio do desmonte do glorioso movimento de jovens, dedicado ao aperfeiçoamento do convívio das pessoas entre si e de todos com a natureza ameaçada.
Vou divulgar como puder, na imprensa, na internet, esta minha manifestação para tentar impedir que o Conselho Nacional vote e aprove esta barbaridade. Presidi o Conselho Nacional por alguns anos ate 1993, quando um verdadeiro golpe foi cometido por alguns, à pretexto do enfraquecimento do Movimento em todo o Brasil e transferiram a sede da UEB, que sempre foi a capital da Republica, para a poderosa Região do Paraná, em Curitiba.
"Uma vez escoteiro sempre escoteiro", costumávamos afirmar, mas me afastei do movimento , continuando a testemunhar o espirito escoteiro, sem vacilações e com coragem, sua perspectiva de vida e objetivos educacionais. Agora não posso calar. Peço, convoco a todos os escoteiros e escoteiras, os jovens e os idosos como eu, (estou com 78 anos), que façam alguma coisa, movimentem-se para bloquear, pelo voto no Conselho, esta modificação infame que querem introduzir na nossa Lei secular.
Sempre Alerta para Servir e um cordial e preocupado abraço do
Eurico de Andrade Neves Borba
Escoteiro de 1ª classe, ex-Presidente do Conselho Nacional da UEB.
Ana Rech, Caxias do Sul, em 3 de outubro de 2018.