Carta de um marginal
Mãe,
Sei que a senhora nunca vai ler essa carta, mas eu precisava deixar registrado tudo isso. Mesmo que
muitos ainda não tenha maturidade para assumir vivemos em uma sociedade onde os pais não conhecem
seus próprios filhos. Por falta de opção? Vontade ? Permissão?
Então nao seja por isso, agora você vai me conhecer.
No século que vivemos é tudo tão comum, policial atira em negro na rua, mata e foda-se, Foi só mais
um.
Sera? Me pergunto todos os dias, será que eu vou ter um futuro num país como esse, onde essa
gentalha só quer me colocar para baixo? Tudo isso porque? Pelo meu excesso de melanina?
Antes eu ainda era ingênuo e costumava chorar, quando encostava na minha cama, só que hoje não, hoje
eu sei que minha raiz não é pra sua opinião. Já me tiraram tanta coisa man, tiraram a minha paciência, a consciência, só que minha
resistência vai curar essa sua demência.
E hoje ao envés de chorar, hoje eu desconstruo essa ideia e prefiro pensar que o problema que estas pessoas têm contra
mim, quando me veem na rua pela noite e mudam o lado da calçada, quando eu entro em um a loja e o
segurança me segue, me olham torto, as vezes com cara de nojo, eu coloco na minha cabeça que
esse problema que essas pessoas insiste em ter contra mim é delas, e não meu. "Por que se você parar
pra pensar na verdade não ha"
Meu cabelo é duro, meu beiço é grande mas man eu me amarro. Não quero fazer drama não tiu, nem te
chatear mas é assim que as coisas são nego. Não fica triste por mim não preto eu aguento, Eu sou
forte, e se eu conseguir não vai ser milagre. Vocês podem me chamar de tudo menos de covarde.
Quando eu olho pra uma pessoa racista, quando eu olho pra um povo homofóbico, machista, taxista,
malabarista, dentista, cientista, exorcista, satanista, quando eu olho até mesmo pra mim não posso deixar de
pensar que o homem é apenas um animal que não deu certo.
Um breve desabafo de seu filho.
Luís,