Ana Alice e a Carta a um velho fantasma
Há tanto tempo não pensava em você, até imaginava não haver mais feridas. Tão cruel, me sentia curada, mas a recaída foi quase inevitável. Você parece um imã, e eu um velho corpo feito de material ferromagnético. Será que estou acometida pela Síndrome de Clèrambault?
Mas conte-me como tem passado estes dias de navegação? Quantas ilhas? Quantas sereias? Quantas aventuras e desventuras?
Eu? Eu estou por aqui e ali, às vezes, estou nas nuvens e outras, nas mais profundezas do desespero. Não entenda como uma metáfora barata, estou tentando filosofar, meu caro, sobre as entranhas do submundo, até mesmo porque se sabe que não há nada que uma boa cachaça não faça melhorar. Talvez, seja a história de quando a Chapeuzinho começa a sentir falta do Lobo mal, do psicanalista que precisa de psiquiatra, do policial que precisa do bandido, digerido de intensidade sísmica na expectativa de um espirro, pois, não há âncora que a impeça de ficar à deriva.
Foram tantos questionamentos, imposições, tantas frustrações. Todavia, tudo permanecerá sem respostas. Afinal, por mais que o psicopata afirme gostar do vento para direcionar suas velas, por vezes, é possível vê-lo enfiar a mão na água, como se fosse um remo, e assim poder influenciar o percurso.
Sem sofismo, apenas expectativas de velhos divãs, que os bons ventos o acompanhe e as profundezas não sejam eternas.
By Ana Alice.