EX TOTO CORDE

Quisera eu que hoje essa missiva alcançasse o senhor, na paz em que certa e merecidamente se encontra, no entanto a sugestão é que, em última análise, raspando os adornos e discursos, após atravessar o mistério, os esforços de cá são apequenados, infrutíferos tão desimportantes como hão de ser as mazelas desse mundo para quem do alto pode olhar. Jamais afligiria sua alma eterna com os pedidos vãos.

Mando, por essa, minha gratidão. Acima de tudo. Gratidão que minha estupidez, tamanha e crescente, não pôde amealhar e lhe dar quando pude. Que minha consternação, digna de constrangimento, me cegou. Agora queria o pelo clarão de seu olhar cândido, pelo riso farto que preencheu toda uma vida, pelos saberes discretos entoados nas máximas, pelas piadas, pelo jeito bom de sofrer a vida. Com essa, rezo e peço que rezem oração. Não pelo senhor, mas pelo filho. O filho tem mais precisão. O que resta de mim na vida é muito de aprender a pedir perdão.

Que a paz esteja eternamente convosco, e como sempre foi, resplandeça para os seus, emanando daí de cima, que sempre muito te amaram e a quem sempre deu razão.

Ex Toto Corde.