Retorne!?

Não é minha a escolha. Não percebes que você já a fez, e há mais de um ano?

Tu resolves aparecer depois de meses em que me eduquei para te esquecer. Dizes-me que de mim precisas, que a minha falta sentes, que estás sozinha desde que me fui, mas mantém para si a escolha original. Queres de mim exigir que comprima o que sinto em teu benefício? Queres tudo para ti? E eu, com o que ficaria? Com o ciúmes, a inveja e a obsessão resguardadas? Queres me ver implodido? Pois, cara amiga, vá você e quem está contigo para o inferno. Apesar de te amar, não poderia, neste instante, odiar-te mais. Quero que tudo em tua vida dê sistematicamente errado. Quero que me vejas em cada momento de dificuldade, que contemple cada suspiro de sofrimento que a mim proporcionastes e que os sinta com intensidade deveras maior.

Eu te odeio tanto, mas não há segundo em que não a queira de volta. Por favor, retorne quando quiser, nem que seja para destruir o que de mim restou, nem que seja para testar até onde vai meu amor doentio. Apesar de termos ambos dito adeus, ao menos eu o recebi e disse sem nele crer. Não o desfaço imediatamente porque me esgotaria o breve resquício de amor próprio que ainda reservo. Se cresse em preces, me ajoelharia agora pela tua volta.

Creio que já tenha te contado, alguma vez, minha teoria sobre almejarmos, nós, humanos, o sofrimento antes de qualquer coisa. O preferimos ao tédio, sem dúvida nenhuma, e suspeito que facilmente nos adaptamos e enjoamos do que conquistamos como felicidade. O sofrimento é sempre intragável e incômodo. Com ele, tudo que compreende nossa condição natural humana se põe em movimento. Gostamos, mesmo sem muitas vezes perceber. Você é para mim uma inesgotável fonte de sofrimento e amor.

Tudo o que acabei de dizer a ti não chegarás. Se há, no mundo, algo de místico, de inexplicável, que meu clamor se efetive e chegue a você por caminhos desconhecidos, ocultos: retorne!

Charles WP
Enviado por Charles WP em 06/08/2018
Código do texto: T6410801
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