Amor

Aqui nas duchas, escutando o barulho das águas em cascata nas pedras, encontro o som das tuas palavras em meus ouvidos. Palavras que entram no coração-agenda e pintam a página solitária. Espalham em cada gota de água da cachoeira se multiplicando. Descem rio abaixo, formam pérolas no abismo do oceano. Oceano pacífico e acolhedor. Cada pérola um significado: A pérola vermelha, coração em brasa, paixão ardente; a roxa, a dor da saudade quando caminhávamos de mãos dadas pelos quiosques beira rio; a verde, esperança de sermos felizes novamente; a amarela, luz que emana de ti; a branca, a paz que me proporcionaste e a preta, o luto por te perder. Digo perder porque já não mais temos tempo para deitarmos sobre a areia quente ou sobre as pedras da cachoeira. Não há mais aquele nosso cantinho escondido entre as pedras debaixo da cascata. Está sempre habitada não por nós dois. Ali explodiu nossa primeira paixão. Entregamo-nos com ardor, com a loucura de adolescentes apaixonados.

Continuo aqui a observar a cachoeira. Apesar do barulho da queda d’água, silêncio total. Às vezes acordado pelas batidas de um coração que tem como companhia, um triste mas lindo pôr-do-sol.

Juraci de Oliveira