Quem sou eu?
_______________________________________________(09/05/2018)
Disse a mim mesma: "Eu sou mulher!". Logo em seguida questionei-me o quão vazio seria esta afirmação, pois, ao certo, o que seria uma mulher? A dona de casa? A presença que cuida dos filhos? A personalidade independente a procura do reconhecimento de seu valor? Um corpo que desperta desejo ou manequim modelo de aparência exuberante? O símbolo de sensibilidade e fragilidade? A representação do empoderamento? A companheira por de trás do sucesso masculino? A realização sexual da juventude? A culpada pelas transformações da sociedade atual? O despertar pelo descontrole do assédio alheio? A vítima da ignorância passada da evolução humana? Tudo isso? Ou nada disso?
Senti-me mais perdida neste mar de dúvidas do que antes. Onde estava meu eu individual? A humana que gosta de trancar-se no quarto e sentir-se livre. A pessoa que chora, rir, sente-se solitária ou se faz por muitas companhias. A voz que fofoca ou que se silencia por demais. A sujeita que tem dias se assemelha a uma deusa e, em outros, as sobras da lasanha. A tímida presença que não quer pagar caro por uma roupa chique, mas se faz em agilidade e coragem quando é para ir aos varejos renovar o guarda-roupas. A garota que não quer ser modelo de nada, mas apenas ir a uma padaria modelo. Apenas uma existência biológica como qualquer outra.
Estou a notar muito mais revolta alheia acerca das transformações da água e da ilha do que os próprios moradores. São tantas indicações de contratos de ser, de como devo preencher meu currículo pessoal, de quais os melhores cursos da vida, quais os melhores empregadores, os locais que devo frequentar para manutenções... Chegando ser entediante, sufocante, massacrante, que fico a pensar que na verdade deixei de ser eu-humana e passei a ser espelho-sujeito.
Atenciosamente, Clara Nuvens.