Sobre quem eu sou hoje
Eu sou o peregrino da cacofonia, sou o violinista maldito das cordas de ouro, sou o marido que carrega seu legado, a cria indesejada do Deus silencioso, sou o inimigo do falso deus, sou a criatura desconhecida pelo seu próprio povo, o coração amoroso atolado em desespero, o medroso das cartas, sou o filho do berço quebrado, tenho nomes suficientes para nomear cada emoção a mim confinadas e confiadas, o corvo sem seu canário, o engaiolado que tem medo de perder as penas para evoluir, o último pupilo vivo, o demônio mais humano que existe, finalmente, o melhor amigo dos traídos, nomeado pelas 7 línguas que condizem com a verdade.
Tais títulos são apenas conquistas, sejam péssimas escolhas, traições ou atentados, amores inacabados, laços sepultados, amizades que se acabaram com o último piscar da lanterna, palavras que nunca chegaram aos seus remetentes.
Tudo isso pela paranoia de alguém que está morta, assassinou minha vontade de viver, apoiando-se nas pessoas para poder respirar e agora o traidor de infâncias, memórias e legados.
Me sinto morto, uma casca vazia que procura significado através do cheiro de morte, mesmo sendo um afiliado ao pessimismo, procuro o melhor para as pessoas, mas quando se engaiola um sentimento, aprisiona-se na mente o impossível de uma pessoa, posso ser altruísta?
Pensar em mim mesmo o suficiente para achar que o melhor para todos é afastar-se de amor, ou ter medo de amar a ponto de decepcionar com sua negatividade? Novamente tudo poderia ter sido respondido por um livro de perguntas, poderia ter sido confortado pela mão levemente carregada por responsabilidade de vidas, porém, quando essa mão pousa em você uma última vez para te passar tal responsabilidade, o legado deverá ser deixado para quem?
Minha linhagem tem que acabar comigo, o corvo tem que voar para a Morte. Sou um presente da vida para Ela, eu tenho medo da morte, mas tenho mais medo de desapontar a quem me espera do seu lado. Eu não sei se consigo seguir sem pensar nela um momento, tudo que me vem na mente é seus cabelos, o emaranhado de ouro que me fazia querer guardá-la no cofre do meu coração, os olhos que eu queria cegá-la somente para mim, as mãos que só descansavam se nos meus ombros, o lábio que me embebedava os sentimentos, a voz que já cantarolava o final de nossas vidas juntos, a alma que se tornou minha, não por escolha, mas por direito.
Mesmo que se passem anos, eu admito que a amo mais que tudo, quero sentir-me vivo igual antigamente, mas quero que ela encontre a paz pelo que o maníaco pintor fez com ela.
Meu dilema sempre será,
Uma vida só,
Que uma vida só,
Cabe a quem ler, interpretar minha decisão.