Essa é a vida que eu levo !!
Eu nunca soube dançar, mas pelo menos me viro com uns passinhos criativos. Nunca soube fazer a trança perfeita, eu só digo que o meu cabelo é alternativo, do tipo “acabei de acordar.” Nunca estudei uma semana antes da prova. Mesmo assim, uns vinte minutos antes é o bastante para tirar uma nota razoável. Nunca passei um delineador direito no olho, deixo meio borrado e finjo que é efeito “esfumaçado”. A maioria acredita. Eu nunca fui uma dama da nobreza em casa, já na casa dos outros chego a ser chamada de perfeição. Eu nunca fui perfeita. De qualquer forma, minha mãe me atura até hoje. Eu nunca fiz piadas engraçadas. Pelo menos os outros riem de mim com minhas caretas sérias. Em casa, nunca me chamaram de calma. No mundo lá fora, meu sobrenome é pacifismo. Nunca consegui ser insensível a tudo que estava ao meu redor, o que não me impede de fingir não me abalar com nada. Nunca dormi muito bem, desde que me entendo por gente sou vítima da insônia. No outro dia ao acordar, ajo como se tivesse dormido no mínimo umas oito horas de sono. Nunca fiquei calada quando escutava coisas dos meus amigos que achava errado. Mas essa regra não se aplica a todo mundo. Eu não sou besta o suficiente para confrontar um professor, por exemplo, e perder dois pontos. Nunca fui paciente, isso é fato. Porém, tento ser sutil quando espero demais por alguém numa hora marcada. A pessoa tem a audácia de perguntar: “te fiz esperar muito?”. Eu nego. Eu nunca deixei de usar a sinceridade quando perguntavam a minha opinião. O respeito não falta também. Pois ao mesmo tempo em que digo a verdade, tento não magoar com palavras cortantes e constrangedoras. Nunca me consideraram como invencível. Tanto faz. Eu venci um número de batalhas suficiente para me sentir forte. Nunca fui uma das melhores em Educação Física, não devo servir para praticar nenhum esporte. E daí? A teoria é fácil. Para ganhar num jogo oficial de vôlei é necessário vencer 3 sets. Uma partida de futebol é composta de dois tempos de 45 minutos. O goleiro é o único que pode pegar a bola com as mãos. E no handebol, ao invés de usarem os pés, usam as mãos. Nunca tive sex appeal, também. Todavia, eu sei que no final os meninos preferem aquela garota de braços cruzados no canto da balada. Aquelas que se oferecem demais são descartadas em pouco tempo. Nunca me destaquei em algo. Sei lá. Nem em humanas, nem em exatas, nem em biológicas. A minha letra escolar está mais pra algo legível do que bonitinho. Não posso dizer com todos os detalhes o que aconteceu na Segunda Guerra Mundial ou quem foi Gandhi. Mas com certeza, sei um pouquinho de tudo. Vivo atualizada, captando as novidades e procurando me informar sobre o que já virou velharia. Nunca tive a oportunidade de saber falar um inglês fluente. Agora, se alguém chamar um gringo para bater papo comigo ao menos entenderei o que ele está falando e vou responder do meu jeitinho improvisado. Nunca segui a moda, ela que se vire, que corra atrás de mim. Somente sei que tenho um estilo. E o meu estilo é misturar tudo o que combina comigo. Nunca considerei nada ilícito, acontece que certas coisas não me convêm. Nunca tive um canto afinado, e devo morrer sem nem chegar aos pés da voz da Adele. De boa na lagoa. Se for necessário eu canto, dou o meu melhor. Nunca dei muita confiança para quem não vai com a minha cara. Uso o lema: “falem bem, falem mal. Mas falem de mim”. No entanto, geral sabe que eu viro uma fera quando pisam no meu calo. É esperar pra ver. Nunca acreditei que a solidão é maravilhosa, apenas preservo o meu espaço. Ou seja, a minha privacidade. Nunca ri da desgraça dos outros, exceto quando aquela mesma pessoa já tinha rido da minha. Nunca fui egoísta, só tinha receio de dividir um pacote de Ruffles. Afinal, tem mais vento que batata naquilo. Nunca deixei de ser saudável fisicamente. Uma pena que não posso dizer o mesmo do meu interior. Sofro sim. Mente lotada de complexidades, distúrbios e problemas. No fim, posso afirmar que superei e ainda tenho muito que superar em relação aos meus infortúnios. Essa é a vida que eu levo. Uma vida improvisada, que não para de levar correções. Erros e acertos fazem parte do meu cotidiano. Dor e prazer travam batalhas para ver quem vai dominar minha mente num determinado dia. Poucas surpresas, muita fé. A dúvida de saber se amanhã estarei viva ou não. O conflito do aquecimento global junto com o efeito estufa me deixando nervosa, sem saber o que esperar do mundo em que habito. Diversas perguntas, inúmeras explicativas. Tentando inovar, acreditando em todas as possibilidades. Talvez um mais um seja três. E o calor me causa frio quando me encho de suor. O frio me causa calor quando me deito debaixo das cobertas. Uma cerca de amores inconstantes, que depois de tudo fracassam. Discussões intermináveis com a família, um gênio que não bate com muitas pessoas. Uma vida aberta ao público e fechada para manutenção de vez em quando. A vontade de não perecer e alcançar meus objetivos. A bondade disputando com a maldade. O certo com o pecado. As lágrimas com o sorriso. Os sentimentos implicando entre si direto, tentando me deixar louquinha. A vida que levo é pesada, dói as costas. É meio que nem um filme independente. Não dá muito ibope, nem lota os cinemas. Porém, é muito gostoso de conhecer e assistir. Desde que se tenha uma mente aberta e vontade de decifrar o que se passa.”
— Deu pra entender? Espero que sim.