CARTA AO INSTRUMENTO!
Prezado instrumento!
Espero que estejas bem de saúde, junto aos teus.
Por aqui todos bem.
Escrevo-te para dar notícias. Outro dia sonhei com você, mesmo tendo dividido o mesmo espaço, simultaneamente, uma meia duzia de vezes, somos estranhos, nem culpa de você, nem de mim. Creio que foram os desígnios, teu e meu.
Não sinto saudades, também sem culpa, do consciente, mas talvez eu esteja sublimando, sem consultar as entranhas da alma, então o sonho vem apaziguar-me.
Quando tentei aproximar-me, fizeram-no uma arma, do topete à alça de mira, das orelhas, os cães, um para cada cano, você era uma garrucha de dois canos.
Preferi não aproximar-me, pois você franziu a testa angulou obtusamente as sobrancelhas e baixou os cantos da boca. Eram dois dedos, um em cada gatilho, um de cada ser. Os canos retorciam-se, tentando um mirar o outro, mas como não conseguiam, assim focavam-me.
Falando que estava certo, dei passos à retaguarda e afastei-me.
Peço-te que pares de me assombrar, aguardes, pois não há alvos, nem armas, há outras formas de resolver distensões, talvez um bom cataplasma.
Saudações