Carta sobre a Academia Brasileira de Letras
CARTA SOBRE A ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
Miguel Carqueija
Reprodução de carta enviada ao Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) em 6/2/1991; não recordo se foi publicada.
Tenho muito respeito para com a pessoa do Sr. Austregésilo de Athayde, que é um belo exemplo de trabalho e participação em idade avançada. Entretanto quero questionar o papel da Academia Brasileira de Letras, que ele preside há tantos anos. Gostaria de saber porque a ABL se omite na defesa do nosso idioma, hoje tão agredido, inclusive (e principalmente) pelo audiovisual.
O uso abusivo dos palavrões, as gírias, os erros de ortografia, os estrangeirismos, soma-se tudo isso a uma deselegância de linguagem, a um desleixo que causa espécie. Os locutores e repórteres de tv, por exemplo, já não sabem usar os pronomes “seu” e “sua”, trocando-os abusivamente por “dele” e “dela”, daí resultando construções grotescas. Termos híbridos, estranhos, como “overdose” — misto de português e inglês — transitam livremente. Nas novelas, nos noticiários e até em livros o português é maltratado; a revisão é uma arte que vai sendo esquecida. O pior é justamente isso: muitos de nossos novos escritores nem sabem português, e querem publicar.
Em todo esse fenômeno de decadência que faz a ABL? Por onde andam os acadêmicos, que não enxergam o que se passa, que não tomam uma atitude?
NOTA em 9/4/2018 — a situação só piorou de lá para cá (veja-se como o verbo “estar” já não é utilizado corretamente nem pelas autoridades públicas e profissionais da mídia, é tudo “tô”, “tava”, “tamos” e por aí afora) e a omissão da ABL continua, num silêncio clamoroso.
CARTA SOBRE A ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
Miguel Carqueija
Reprodução de carta enviada ao Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) em 6/2/1991; não recordo se foi publicada.
Tenho muito respeito para com a pessoa do Sr. Austregésilo de Athayde, que é um belo exemplo de trabalho e participação em idade avançada. Entretanto quero questionar o papel da Academia Brasileira de Letras, que ele preside há tantos anos. Gostaria de saber porque a ABL se omite na defesa do nosso idioma, hoje tão agredido, inclusive (e principalmente) pelo audiovisual.
O uso abusivo dos palavrões, as gírias, os erros de ortografia, os estrangeirismos, soma-se tudo isso a uma deselegância de linguagem, a um desleixo que causa espécie. Os locutores e repórteres de tv, por exemplo, já não sabem usar os pronomes “seu” e “sua”, trocando-os abusivamente por “dele” e “dela”, daí resultando construções grotescas. Termos híbridos, estranhos, como “overdose” — misto de português e inglês — transitam livremente. Nas novelas, nos noticiários e até em livros o português é maltratado; a revisão é uma arte que vai sendo esquecida. O pior é justamente isso: muitos de nossos novos escritores nem sabem português, e querem publicar.
Em todo esse fenômeno de decadência que faz a ABL? Por onde andam os acadêmicos, que não enxergam o que se passa, que não tomam uma atitude?
NOTA em 9/4/2018 — a situação só piorou de lá para cá (veja-se como o verbo “estar” já não é utilizado corretamente nem pelas autoridades públicas e profissionais da mídia, é tudo “tô”, “tava”, “tamos” e por aí afora) e a omissão da ABL continua, num silêncio clamoroso.