ZERO OU UM
Por uma questão de coerência comigo mesmo, muito mais do que com as outras pessoas, tenho reservado o espaço virtual que me coube nesse latifúndio para, essencialmente, liberar as borboletas da minha alma ou sugerir a libertação da de outros interessados. Isso, no entanto, não me mitiga a capacidade de sentir o pragmatismo do mundo ao meu redor. E é sobre isso mesmo que eu gostaria de falar agora: como eu sinto o pragmatismo do mundo ao meu redor.
A humanidade tem como uma das suas principais características latentes o “gene” do atavismo, que é responsável por padrões comportamentais herdados de seus antepassados. Na prática, podemos ser “normais” como nossos pais filhos e netos mas, a exemplo do filme “Entre Abelhas” — estrelado por Fábio Porchat e Irene Ravache —, se temos algum “pão queimado” de gerações anteriores em nossas famílias, em alguma geração futura isso poderá retornar.
Não tenho formação técnica suficiente para avaliar alguma possibilidade de relação entre esse atavismo e a semelhança que guardamos do sistema binário, presente em nosso comportamento: você é Bahia ou Vitória?; Acredita em Deus ou no Diabo? Menino, você é homem ou é viado?; É de esquerda ou de direita? E por aí vai.
No caso da nossa saga política brasileira recente, há uma enorme polarização por parte de uma boa quantidade de pessoas em torno de algo muito maior do que possamos realmente imaginar, que perpassa qualquer lógica midiática. LULA AGORA É O CAPIROTO, O COISA RUIM! Não temos ainda nenhum novo agraciado que preencha esse espaço midiático deixado, esse valioso nicho de mercado, mas todos nós, com raríssimas exceções, já estamos na base do zero ou um. Aliás, vale lembrar como ilustração que, na Roma Antiga, antes da Ascenção do Cristianismo, o espetáculo que mais bombava era cristão sendo devorado por leões na arena do Coliseu. Depois de algum tempo, aqueles dirigentes perceberam o amálgama que poderia advir da inserção daquele povinho apátrida e malcheiroso no seio de um império agigantado e prestes a ruir. Ah, mas isso já é outra história.
Já fui jovem e, como toda a minha esmagadora geração, sonhei os sonhos do PT, carreguei a bandeira do PT e tomei porrada na cara pelo PT até amadurecer e finalmente perceber que eu não precisava ficar ali sentado torcendo pelo Bahia ou pelo Vitória; quando a programação não estivesse mais agradando, eu poderia mudar de canal ou escrever uma cartinha para a emissora. Demorava, mas de vez em quando eles colocavam um desenho animado no lugar. Quando estava com sorte, pintava um Woody Allen.
Atualmente, com as redes sociais à mão, ATENÇÃO, ressalvo que há raríssimas exceções, tipo assim, eu, você, sua família e mais alguns dos seus melhores amigos, não sabemos ou percebemos que estamos diante do maior evento do século, algo que servirá de paradigma para o resto da humanidade. E isso que está acontecendo agora no Brasil não pode ser comparado à simples pergunta: “Você gosta de jiló? Em caso afirmativo, dê uma risadinha como por exemplo: KÁKÁKÁKÁKÁ!, Ou compre logo as carnes do churrasco, porque a cerveja e as loiras eu já trouxe.”
Ah!, tem uma musiquinha do Frejat que diz assim: “Quero que você descubra que rir é bom, mas que rir de tudo é desespero!”