Trecho de um romance que estou escrevendo
Para que servem os sonhos? O que são os sonhos? Como gostaria de saber, pois assim descobriria a razão do sonho que tive nesta noite. E como foi intenso, mas diferente dos outros; sabia que, este, era apenas um sonho.
Tudo aconteceu onde tivemos um de nossos encontros mais intensos, lembra? Deve lembrar, se não, refresco a sua memória: era um almoço em que estavam reunidas as nossas famílias e, deixamos todos preocupados, pois fugimos para ficarmos a sóis lá no igarapé. E como foi gostoso aquele encontro, quando lembro ainda consigo sentir as mesmas coisas que senti naquele dia. Teus beijos cheios de vontade de me devorar por inteiro, teus abraços fortes que parecia não me deixar desgrudar de você. Rolamos pelo chão da casa abandonada sem nos preocuparmos se haveria pulga. Sentia teu corpo quente colado no meu, tua língua passear pelo meu corpo. Depois fomos para dentro do igarapé e, a água, somente ela, era testemunha de nossa paixão.
Não sonhei com esse nosso encontro, mas foi no mesmo cenário; no encontro nos amávamos feitos loucos, mas no sonho você fugia de mim. Aconteceu assim: nossas famílias iam para lá, para o balneário (igarapé), íamos também, mas distantes um do outro. Vez ou outra você me lançava um olhar provocador. Havia uma pessoa entre nós, não fisicamente, mas que não permitia nossa aproximação. A estrada ainda era a mesma; um caminho por debaixo da mata. Chegamos ao balneário, todos se instalaram. Sua preocupação era apenas uma: fugir de mim. Seus olhos não saiam de mim e, quando procurava um jeito de me aproximar, você fugia. Eu fazia de tudo para chamar sua atenção, mas seus olhares apenas me provocavam, pareciam que queriam dizer alguma coisa. Mas o quê? Infelizmente, não sei!
Despertei na última tentativa, você estava conversando com umas pessoas que eu não conhecia, fui ao seu encontro e antes de me sentar na árvore caída onde servia de banco para vocês, levantou-se e começou a correr por entre tocos, árvores, até que chegou em um campo aberto — bem nas margens do pequeno rio — consegui chegar mais perto e te dizer umas poucas palavras: “quero ficar com você, por que foges de mim?”, sua resposta veio não antes de um toque de charme no olhar — o mais provocador e sensual que já vi: “quero ficar longe de você, mas não tanto que não possa tê-lo sobre meus olhos, amo-te, mas você não fez por merecer meu amor”. Parei de andar e aos poucos se afastou de mim, sem me tirar o seu olhar.
Não sei o que são e nem para que servem os sonhos, apenas desconfio. Este sonho me revelou o amor que ainda tenho por ti, como nossa separação não significasse absolutamente nada e, se você me dissesse venha meu amado, iria. Sua fuga é como uma armadura que você usa para se proteger de mim, de todo sofrimento que te causei, das mentiras que contei. Não posso dizer nada sobre o que você sente agora, mas eu, ainda não me libertei do nosso amor.