Carta de Natâni
Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, 09 de Março de 2018
Eu, Natâni Da Silva, faço nessa data 30 anos de idade, e com essa carta peço aos que vão ler, um pouco de compreensão e atenção ao que está sendo escrito, isso não é um lamento, mas sim uma forma de desabafo, sobre tudo que andou em meu coração por todos esses anos. Sempre gostei de viver onde sempre vivi, em um bairro bom de classe média dentro da minha cidade, com poucos amigos de infância e muitas histórias não tão boas para contar. Meus pais foram morar junto com meus bisavôs e mais dois tios quando eu ainda era uma criança, juntamente com meus dois irmãos mais novos do que eu, e admito que em uma parcela foi bom ter conforto, porém o preço foi alto até pra que eu possa me lembrar de tudo que houve comigo e as humilhações constantes com relação aos meus pais, principalmente minha mãe, Keila da qual fez e ainda faz o que pode para seus filhos. Minha mãe sempre foi uma mulher dura, da qual era difícil demostrar o que sentia para os demais, mas ela sempre desabafou seus sentimentos comigo, uma forma de expor seus demônios, creio eu. Meu pai sempre foi um homem acomodado com a vida da qual ele sempre levava, um homem que praticamente sempre teve o mesmo emprego sua vida toda, e gostava do que tinha, sem se importar em ter coisa melhor. Assim foi se acomodado com o que davam a ele. A minha visão de mundo foi ficando mais obscura com o que andava vendo ao meu redor, meu tio morava junto conosco e nessa época fumava e bebia e a casa quando ele chegava bêbado era uma zona, sendo que ele quebrava tudo que via pela frente, e tínhamos que ir para a casa da minha tia que ficava no mesmo bairro. Mesmo assim tive uma boa criação antes dos abusos dos quais sofri na minha infância, e talvez por isso não gosto de ver minhas fotos de infância, elas nunca me trazem somente boas lembranças. Esse meu relato não é uma forma de protesto pelo o que houve, e sim uma forma de libertação de tudo que aconteceu, não vou ser tola, ao dizer muitas coisas ainda me revoltam e ainda vão me revoltar até o fim. Somente é um meio de relatar para todos que é uma maneira da qual encontro para me libertar e aprender a viver algum dia, em um ambiente melhor do qual não haverá mais, discussões, brigas, xingamentos, e principalmente lamentos de ingratidão de pessoas de seu próprio sangue como já presenciei muitas vezes.
Atenciosamente: Natâni Da Silva