Um pouco de Mim.
Hoje vou abrir as portas da minha vida, tudo o que tantas vezes passou despercebido, o que fui indagado e tantas vezes me calei,as portas estão escancaradas, por favor, não há necessidade de tirar os sapatos, entrai calçados mesmo, por todos os cantos há estilhaços da minh'alma, despedaçadas, como cacos de vidros, muitas vezes já me feri em meus próprios caminhos vertiginosos.
Perdoem-me a bagunça, a tanto tempo não recebo visitas que até relaxei no cuidado, deixo as roupas do dia a dia espalhadas pelo chão, esse terno de saudade vesti ontem, e esqueci de colocar para lavar, derramei lágrimas sobre ele. Minha cama de lembranças está tão bagunçada, a anos que não troco os cobertores de esperança... Em algum momento da minha existência acabei perpetuando repetitivos gestos externos, e deixando minha vida a bagunça que hoje esta. Minha varanda de decepções é o lugar que mais visito, minha cadeira de sonhos está lá, são nos embalos dela que esqueço a loucura do mundo lá fora, perdoem-me não poder servir-lhes algo de bom em minha cozinha, aqui tenho bebido pranto, já que a tempos não consigo água de tranquilidade... Meu alimento tem sido sonhos, a única fonte de vitamina que me mantém vivo. Aliás, quantas vezes me encontraram embriagado de frustrações, foi nesse chão frio de reflexões que passei noites jogado em meus devaneios.
E aqui fora, embora minh'alma esteja tão deserta, ainda consigo manter vivas estas flores de sorrisos, não tem sido fácil regar este jardim de impossibilidades, e para que todos pensem que tudo está bem, tenho lavado sempre as janelas dos meus olhos, para que elas transpareçam meu interior, mas pretendo por cortinas, já que não consigo mais esconder o quanto minha estrutura interna está prejudicada e abalada. Não culpo o mundo ou destinos pelas mazelas desta fragilizada moradia, na verdade, eu mesmo deixei de prestar as devidas reformas. Agora, certamente não haverá questionamentos do porque fechei minha vida para reconstrução, não estou requerendo pena, mas peço-vos tijolos de compreensão e aquele cimento de força, para que eu possa recebê-los com honras em uma morada digna de visitas, sem aquele medo de que ocorram desmoronamentos de humor. Que o meu sorriso não seja mais aquela pintura fraca que reveste as paredes do meu olhar somente até a primeira tempestade de tristezas varrer tudo... Que a arquitetura do superar, torne minha nova casa, um lugar onde muitos queiram morar.
(Hámilson Carf)