A PENA É PARA LULA, APENAS

Caro Sidney,

Respondo tua carta, em que tentas convencer-me de que há provas materiais e testemunhais robustas, no processo contra Lula.

Não faz tempo, meu caro, quem estava preso pela Lava Jato e fazia delação premiada, se acusasse Lula por alguma coisa, recebia a absolvição, ou redução da pena, ou uma tornozeleira eletrônica para cumprir só 1/3 da pena em casa.  Todos os presos viram que o caminho da liberdade era esse.  Oba!...  Beleza!...  Quem for podre que se quebre!...

Os advogados, em muitos casos pertencentes ao mesmo escritório, pareciam combinar: "o que dizer e a quem acusar no caso de delação"...

Aberta essa janelinha, nenhum desses delatores deixou de acusar Lula, e suas delações se igualavam e se encaixavam.  Operação "Joga pedra na Geny".

Pois é, Sidney...  Eu não queria acreditar no que vi hoje, meu caro.  Diversos daqueles delatores (atiradores de pedras) foram citados como "testemunhas" no processo Lula.  Provas testemunhais trabalhadas, buriladas, sobraram.  Que tipo de prova? 

Assustei-me quando vi e ouvi o terceiro juiz, em seu julgamento, fazer menção honrosa à delação do ex-deputado pernambucano PEDRO CORREIA NETO.  Ele (o juiz) não sabe que esse "careta" não é flor que se cheire.  Pra início de história, trata-se de uma cria da ditadura, mas que sabe dançar nos ritmos mais convenientes.  Já bailou nos salões dos mais diversos  partidos e das mais diferentes ideologias.  Há mais de 30 anos na profissão, declarou certa vez na TV que a política no país sempre funcionou assim: caixa-2, propina, toma lá dá cá...  Basta dizer que não se elegeu na última eleição por estar impedido pela Lei da Ficha Limpa.  Também não acredito que os pernambucanos o reelegeriam (os currais eleitorais por aqui estão em baixa).  Estava preso por falcatruas detectadas pela Lava Jato.  Também estivera preso por conta do Mensalão...

Pra se ver livre, fez delação premiada.  Em sua delação, sem qualquer prova, disse simplesmente que  LULA SABIA DE TUDO.  Isso lhe valeu redução e a vantagem de cumprir a restante em casa.   Deu provas de que vale a pena pegar em dinheiro público.

Hoje, assistindo o final do julgamento, fiquei indignado quando ouvi o terceiro juiz derramar elogios sobre PEDRO CORREIA NETO.  Quem sabe, os que não o conhecem também intimamente o elogiaram.  Nada contra: aplaude-se a quem merece aplausos.  E tem mais: sua delação, por si só, apareceu como a prova maior de que LULA SABIA DE TUDO. 

Pô!!!... Garanto que todo pernambucano de bem, nesse momento, teve tanto nojo do sr. juiz quanto já tem do ordinário Pedro Correia.  Se esse espertalhão - que mereceu tal "condecoração" em ato público - foi selecionado, dentre os demais delatores que figuram como testemunhas no processo, como o mais digno e merecedor de uma citação honrosa  - para conhecimento não só do Brasil como de muitos outros países do mundo -, o que dizer dos outros delatores igualmente testemunhas?  Seus caráteres? Suas inverdades?  Inverdades, sim, pois que se trata de indivíduos de uma mesma laia.  O meritíssimo precisa saber que o povo brasileiro merece respeito.

Sempre acreditei que "Os iguais facilmente se juntam".  Claro que são todos iguais!   O resultado - manco - era o esperado.  Ficou a certeza de que o golpe que se deu no país foi realmente um golpe. Estão em festa os ganhadores. Por enquanto, três vitórias de Temer (3 x 0).  Viva o Temer!  Viva o Jucá!  Viva o Aécio!  Viva o Gilmar!...  Cessou a sangria.           A Lava Jato cumpriu seu objetivo.   Acaba de acabar. 

Fica esta carta-resposta arquivada no site do "Recanto das Letras", caro Sidney, para que meus descendentes possam melhor interpretar, bem mais adiante: que os denunciados como judeus, mesmo sem provas, eram levados para os campos de concentração nazistas;  que, sob o regime ditatorial militar da América Latina, bastava um cidadão comum ser dedurado por fazer eventual reunião em sua casa, mesmo sem provas, pra ser imediatamente preso e torturado como "subversivo";  que a ku-klux-klan tem adeptos do ódio e do preconceito em todos os países da América Latina, principalmente no Brasil;  que estamos assistindo, inermes e inertes, a operação caça às bruxas - ou macartismo - ser aqui repetida, sob nossos olhos, sub-repticiamente. 
Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 25/01/2018
Reeditado em 25/01/2018
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