Falta-me sempre uma coisa qualquer, mãe
Falta-me uma coisa
Falta-me sempre uma coisa qualquer.
Falta-me... sempre uma coisa.
Falta-me a camisa sem ninguém reparar no colarinho engelhado
Falta-me ninguém estar à minha frente na casa de banho
Falta-me o sapato da moda e o cinto a condizer
Falta-me o cheiro a torradas e cevada na cozinha
Falta-me a comida atrasada à hora de almoço
Falta-me a chamada para o almoço
Falta-me o carinho do cão no quintal
Falta-me o minuto das crianças a chegarem da escola
Falta-me o grito de golo do BENFICA
Falta-me a história antiga da minha infância
Falta-me a brincadeira dos irmãos
Falta-me o riso do pai...
Falta-me o teu beijo
Falta-me a tua opinião
Falta-me abraçar-te.
Sabes, vou fumar um cigarro...
Falta-me o gás no isqueiro, porém, tenho o último fósforo nesta pequena caixa de cartão mas, mesmo que seja o último fósforo, que se dane, vou fumar este cigarro!
Vou fumar e vou mandar-te esta mensagem!
Falta-me esta hora...
Falta-me este minuto...
Faltas-me tu, mãe.
Victor Amorim Guerra