Se eu fosse te escrever
Se eu fosse te escrever [não sei exatamente se te escrevo ou se faço um diário de viagem. Eu nada sei exatamente] talvez eu começasse dizendo da chuva muita que cai por aqui ou do barro que antevejo nos calçados de amanhã, afora a umidade. A chuva barreia. O rio barranca. E eu acamparia numa barraca de lona, em alguma serra daquele mapa da sala, só pra ficar ouvindo a noite ao ar livre. Também é noite muita por aqui. Devo estar influenciada por essa abundância de vida pra te escrever assim, sem um propósito. Ou talvez eu tenha pegado horror a propósitos. Assombração dos dias. O ano virou e eu continuo escrevendo poemas. Aqui e ali, uns postais. Coisa assim sem propósito. Com fotografias dos lugares de passagem. E umas poucas linhas pra lembrar a saudade. Como fazem as músicas. Talvez eu te escrevesse sobre aquela música perfumada que jardinou a noite, mas o volume da chuva aumentou. Ouço o mundo agora escorrendo. Pouco vejo. Desconfio que escrevo para tocar seus olhos.
Endereçada e postada, desde antes.
Lua encoberta pela chuva.