Meu pai e as 29 cartas de dezembro. Trilogia da despedida: Parte -1 Último instante.
Oi, meu Pai.
Estamos na reta final das cartas, decidi chamar essas três cartas finais de A trilogia da despedida.
Até este momento eternizei nas palavras e nos textos um pouco de nossa trajetória, sei, pai que assim como chegou sua hora, um dia, com medo ou não também irei partir, quero deixar para meus filhos, o mesmo que o senhor me deixou, exemplos de uma vida controvérsia, que se iníciou de forma complicada e terminou de forma dolorosa, mas, que no meio desse começo e fim, ficaram as coisas boas a serem eternizadas.
Meu desejo, será que um dia, mesmo, eu, não estando mais aqui, possa falar a meus filhos através destes textos, que minha vida foi regrada de muito amor, o amor que o senhor me deu e devolvo para eles.
Hoje, exatamente hoje, Pai, completa 365 dias que lhe vi vivo, pela última vez, passei o dia desfrutando de sua companhia na uti especial do Hospital Português do Recife.
Esta, pai, está sendo a carta mais difícil de ser escrita, pois, as lágrimas inundam meus olhos neste momento.
No dia 26 de dezembro, mamãe me perguntou se, eu, podia render minha irmã no hospital e claro, falei que sim, ela nunca havia me pedido ou deixado,eu, ficar com o senhor, mas, me pediu.
Então, dia 27/12/2016, cheguei logo pela manhã no hospital e rendi minha irmã, ela, me repassou as seguintes orientações:
Se acaso o coração dele parar, não de chilique, não é para ressucitar, essa foi a decisão tomada pela família, pois, decidimos, desfazer qualquer método que levasse o senhor a uma vida artificial.
Eu, chilique? Pois, sei...
Mas, sim, nunca estive pronto para lhe dizer adeus.
Minha mãe e ela sairam e fiquei conversando com o senhor mesmo sem obter resposta sua, neste dia acabei com a reserva de comida que haviam deixado para mim, rapidamente, não sei, o por que.
Estava em seu rosto uma máscara e notei que os movimentos de seu maxilar o tiravam e eu a recolocava.
Isso repetidamente. O médico adentrou o quarto e me falou:
O senhor está bem? Sabe que sua mãe achou melhor desligar a maquina de respiração e retirar o material da hemodialise, mas, caso queira, recolocaremos tudo.
Eu respondi:
Minha mãe decide, que seja feita a vontade de Deus e espero que o milagre aconteça.
O médico cetico e sem cerimônia, me fala:
Este é o momento de despedida, aproveite cada instante de seu pai.
Agradeci e ele saiu.
Então, ajeitei novamente sua máscara de oxigênio e lhe beijei, fiz umas três fotos nossas nesse instante.
O dia foi acabando, meu irmão chegou lá, já a noite e eu pedi a rendição dele por alguns minutos e desci no elevador, fui fumar.
Voltei rapidamente e logo reassumi o posto.
Não demorou e minha mãe chegou, com minha irmã para me render, fomos, mamãe e eu para casa e este foi o último dia que lhe vi com vida.
Pai, o senhor vive em mim, jamais morrerá, o espírito é eterno, Jesus provou.
Mas, a saudade machuca, não lhe ver outra vez, isso é difícil demais.
O senhor, não aparece, nem em sonhos para mim. Pergunto, a Deus, por que?
Saudade, Pai, sinto muito sua falta.
Eu te amo Jonas, Eu te amo Pai, o senhor me faz muita falta.
A trilogia da despedida vai continuar.