Meu pai e as 29 cartas de dezembro. Dia 23 de dezembro.

Eita, meu guerreiro.

Pai, sempre tive maior orgulho de quem o senhor se esforçou ser, um homem íntegro, objetivo, culto, de palavras rebuscadas, dono de um vocabulário vasto, diplomado, respeitado, de estirpe, eximio atirador, homem família e outros atributos mais.

Uma pena, que de suas orientações, muito pouco absorvi em tempo hábil, uma pena que na maior parte do tempo preferir discordar que aprender.

O senhor sempre esteve certo em cada conselho ou repreensão, eu, que estava errado, me sentindo o centro do universo.

Não esperava, meu mestre, meu amigo, meu herói, que o senhor era frágil como todos nós, o senhor sempre me pareceu inquebrável, mas, tudo mudou e por dias cheguei achar que o senhor havia acordado dentro daquele caixão, sepultado e que estava angustiado sem ar.

Te achava tão viril pai, que em 2008, o senhor sofreu o primeiro avc e ficou com sequelas, que não era possível para mim processar, cheguei a duvidar, mas, pai, admito, sempre estive errado. Na verdade sua matéria era composta pela mesmas informações biológicas que a minha.

Não, sei o que diria se o senhor viesse para perto de mim e conversasse, muito complicado, estar aqui e não lhe ver.

Dentre nós, não um eu te amo, em palavras, mas, sempre via no seu olhar.

Pois é, muito duro, mas, tenho que contar o que vivemos. As cartas vão continuar.